É praticamente uma constante entre os conselhos de consultores de empresas a realização periódica de “feedback” em dois sentidos, de gestores para geridos e destes para os gestores. A prática vem ao encontro de melhorias no desempenho geral e relacionamento entre pessoas que, afinal, passam quase um terço de suas vidas em contato direto ou indireto. Por isso é muito importante que pessoas envolvidas em qualquer atividade profissional pratiquem regularmente o “retorno”, positivo ou nem tanto: quem tem uma atuação satisfatória gostará de saber que é reconhecido e esse reconhecimento certamente será estímulo para que mantenha e melhore suas qualidades, quem estiver abaixo das expectativas deve ser lealmente informado disto, e talvez seja esta informação o que falte para uma reflexão e melhoria. Evidentemente dar um retorno com certa desaprovação exige habilidade e forma não agressiva, cada pessoa deve procurar ouvir com isenção, pois muitas vezes o excesso de sensibilidade pode prejudicar a possibilidade de aperfeiçoamento. Ninguém é perfeito, sempre podemos progredir em nossas atividades, embora a tendência natural do ser humano seja a auto referência: temos a nosso próprio respeito opiniões que podem ser até extremamente laudatórias ou depreciativas; sem o equilíbrio externo estas narrativas podem alijar algumas pessoas da realidade. Isso se aplica também a questões de convívio pessoal, de amizade, afetivo; mesmo pessoas que se gostam precisam eventualmente conversar sobre o relacionamento, a temida e ironizada “DR”, em que se manifestam gostos e desgostos que podem incrementar ou destruir a relação.
Por isso não tem sido simples, dado o clima de divisão interna que parece ter contagiado o país, que organizações de todos os tipos saibam utilizar – inclusive em seu próprio benefício – as críticas e elogios que são indispensáveis em todo ambiente de convivência humana. Hoje já não criticamos, temos ofendido direto, ou está conosco ou está contra nós, se pensa diferente deve ser alvo de injúrias e difamações. Em muitos locais de trabalho já não se conversa, se entra em confronto.
Elogiar sempre e sem motivo torna o relacionamento falso, porém nunca elogiar é igualmente ruinoso, o clima organizacional é extremamente dependente dos encorajamentos, das preocupações pelos demais e principalmente do reconhecimento dos sucessos. Desenvolver um equilíbrio entre elogios e críticas, evitando confrontações verbais e excessos de juízos de valores costuma ser facilitador de boa atmosfera laboral, que favorece inclusive a produtividade além de tornar as pessoas mais propensas ao bom atendimento e simpatia. Assim, entender o outro, tendo uma genuína atenção aos seus atos e atitudes, compreensão do papel de cada um no objetivo comum, consciência de que, da limpeza e fiscalização aos mais altos postos hierárquicos, todos são responsáveis por uma parte da meta, e devem, portanto, estar em equilíbrio e tranquilidade para cumpri-las tem produzido o que periodicamente é publicado na mídia como “os melhores locais para trabalhar”.
Nestes, com certeza a personalidade da organização se mostra por meio de suas interações sociais e profissionais, a moral fica elevada e permite com mais facilidade o apreço pela inovação. Resistir ao novo é característica de um ambiente de medo, onde a insegurança da continuidade afeta a forma de reação às novidades. A coesão e a confiança oferecem mais oportunidades de crescimento pessoal, o que é fundamental nas organizações, incluindo as escolares. Alunos que não desejam ouvir críticas são incompatíveis com a ideia de desenvolvimento pessoal, excessiva autoestima é tão nociva quanto a baixa, gostar de si mesmo não pode interferir na noção de que podemos conhecer mais; professores incapazes de auxílio, crítica e encorajamento mútuo não ensinarão empatia e solidariedade, essenciais para a aprendizagem. 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.