O artista plástico Andy Warhol ironizou: “no futuro todos serão famosos por quinze minutos”. Este futuro chegou, e a profecia do americano prova-se certeira, querendo ou não quase todos nós somos famosos, no sentido da fama que extingue qualquer pretensão de privacidade. No trânsito, no trabalho, nos elevadores, nas ruas, nos bares, nos corredores, nos supermercados, em todos os lugares somos filmados, gravados, fotografados. Isso não quer dizer que a maioria de nós desperte qualquer interesse especial, apenas que, para o bem ou para o mal, somos vigiados ou até personagens involuntários de “selfies” alheios. 
As câmeras de vigilância podem ser auxiliares importantes na segurança pública ou privada, são muitos os casos em que crimes são desvendados ou evitados com recurso a elas, mas a ideia de estar na mira constante destes “paparazzi” eletrônicos é desconfortável, principalmente para quem não pertence às gerações nativas digitais. A dura verdade é que não se pode mais fazer nada tendo certeza de não estar sendo visto.  
Somos uma espécie adaptativa, aprendemos a conviver em certa medida com o inevitável, os ruídos de uma cidade, condições climáticas extremas, situações de conflito e, claro, um mundo teoricamente sem segredos. Não fora assim, não sobreviveríamos, o que parece não nos atingir diretamente torna-se mero pano de fundo, presente, mas não “existente”. É o que parece explicar as atitudes e declarações totalmente absurdas de que tomamos conhecimento cada vez com maior frequência; as pessoas fazem e dizem barbaridades, postam em redes sociais e acreditam realmente que apenas o “seu” público as verá. O exemplo mais recente é o de compatriotas que envergonharam nosso país assediando e ofendendo pessoas na Rússia, filmaram tudo e aparentemente esperavam aplausos, se não foram aplaudidos a culpa é da “mídia” (sempre ela) que mostrou as gracinhas a uma plateia despreparada para tal maravilha. 
Talvez sempre tenha sido assim, logo que os telefones começaram a se popularizar tornou-se uma espécie de moda a prática de “trotes”. As pessoas ligavam para conhecidos ou desconhecidos e diziam bobagens e até desaforos, perguntavam por alguém que não existia, faziam ameaças ou fofocas. E o clássico, namoro rompido e começavam os telefonemas silenciosos, maneira de saber do outro ou de controla-lo, supostamente sem que o outro soubesse de quem se tratava, autentico segredo de Polichinelo. Atualmente existe uma modalidade criminosa, os telefonemas geralmente feitos de dentro de presídios, em que é dito que um parente foi raptado e exigido um depósito bancário. E há também a praga antiga das cartas anônimas, retratada magistralmente por García Márquez no romance “O veneno da madrugada”.  Aparentemente a ilusão do anonimato libera o pior de muitas pessoas. 
O assassino passional que desce pelo elevador do prédio de sua vítima, transportando-a em uma mala; o político que fala algo desastroso para seus propósitos e imediatamente renega o que falou; o motorista que sai embriagado de um bar, dirige em alta velocidade e provoca acidente; os adolescentes que praticam bullying no pátio da escola; o empresário que entrega a alguém um dinheiro não exatamente limpo; todos têm em comum a fama instantânea, não podem esconder o que fizeram pois há provas visuais e auditivas, mas tentam negar, sempre tentam. Tudo é falha de interpretação, má vontade de alguém, perseguição política, ilusão de ótica. E até dentro das instituições de ensino alunos aprendem cedo a negar o evidente, como se a versão fosse superior ao fato, pois é o que assistem adultos fazerem, e o exemplo é superior a qualquer conversa que se possa ter com eles. O velho ditado “os jovens farão aquilo que o veem fazer, e não aquilo que você diz que devem fazer” é cada vez mais pertinente.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.