O público em geral, até mesmo professores, muitas vezes se esquece do quanto a criação de alguns recursos de comunicação, a invenção do papel, da impressão, da fotografia, da televisão, dos projetores de transparências ou slides, entre outros, foram essenciais para a veiculação do conhecimento cientifico, permitindo novas formas de construção de saberes e melhoria da qualidade do ensino.

No entanto, em meio à pandemia, como nunca antes estamos vivemos um momento de ascensão das tecnologias, pois fomos impactados por alterações nos modos de relacionamentos, saúde, finanças, comunicação, no mundo do trabalho.

Teríamos mais sucesso caso a desigualdade imensa do país houvesse permitido o desenvolvimento mais equitativo das habilidades de leitura dos textos visuais, dentro de um processo dinâmico, que envolve o contexto cultural dos participantes, pois esta comunicação é permeada pelos saberes, valores, ideologias e visões de mundo na qual é criada e consumida.

Para a compreensão de uma imagem é indispensável um mínimo de letramento visual, já que a capacidade de correta interpretação decorre de intervenções educacionais de vários tipos; a habilidade de entender e produzir mensagens visuais de forma cuidadosa e crítica é fundamental neste momento de poucas interações presenciais.

Desde meados do século XX eram visíveis mudanças significativas na forma de veiculação da informação. De lá, sabíamos o valor de recursos hoje vistos como extremamente simples, dos aspectos gráficos contidos num texto, como fotografia, ilustrações, tabelas, negrito, sublinhado, tipos diferentes de fontes, que passam a ser cada vez mais utilizados nos meios de entretenimento e ensino, para garantir absorção de conhecimento com mais agilidade e rapidez.

Ou seja, recursos visuais não constituíam meramente ilustração de apoio, e sim mensagem estruturada, e os teóricos área educacional passam a admiti-los como indispensáveis ao bom processo ensino-aprendizagem.

Entretanto, num país com a quantidade de analfabetos – na casa de milhões – ou analfabetos funcionais, pessoas que assinam o nome e entendem instruções extremamente simples quando escritas, mas incapazes de compreensão de textos um pouco mais elaborados, a capacidade de entendimento de imagens mais complexas, gráficos e tabelas é quase inexistente, o que dificulta muito a possibilidade de acompanhamento das novas metodologias, que envolvem tecnologia de ponta. Sem contar a dificuldade de acesso à internet, e a pequena porcentagem da população com computadores, tablet ou notebook em casa, de forma geral apenas com celulares pré-pagos e pouco acesso à rede, o ensino remoto tem enfrentado também a quase impossibilidade de apreensão de conteúdos veiculados digitalmente.

A rápida disseminação da pandemia, as incertezas sobre seu controle, acrescidos da imprevisibilidade sobre sua duração e possibilidade de retorno às aulas presenciais, principalmente naquelas disciplinas que necessitam aulas práticas, constituem fatores de risco para a difusão de mitos e informações equivocadas, notícias falsas compartilhadas que contrariam as orientações de autoridades sanitárias e minimizam os efeitos da doença. O fechamento de escolas e universidades e o distanciamento social diminuem as conexões face a face e as interações sociais rotineiras, prejudicando ainda mais a tranquilidade indispensável para a aprendizagem.

Em que pese a grande dedicação da maior parte dos professores, que em sua esmagadora maioria não são nativos digitais, e tiveram que realizar um imenso esforço para superar suas dificuldades em aulas à distância, nem todos os alunos puderam acompanhar esta mudança brusca, seja pela questão da visualização seja pela capacidade de desempenho cognitivo face ao exposto, mais visual agora que em sessões presenciais.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.