LOJAS FECHADAS
Cenário na Marechal Deodoro, conhecida pelas lojas de varejo (Franklin de Freitas)

Num tempo em que “mercado livre” ainda era apenas um princípio capitalista e “amazon” era só a forma de se escrever em inglês o nome do maior rio do mundo, a Rua Marechal Deodoro, localizada no Centro de Curitiba (paralela à nacionalmente famosa Rua XV de Novembro, primeiro calçadão do Brasil), era uma parada óbvia para aqueles que precisavam comprar um eletrodoméstico. Ao longo de algumas quadras próximas da Praça Zacarias, eram — e ainda são — diversas as lojas e as redes varejistas presentes, ofertando eletrodoméstcos, móveis e brinquedos ao consumidor curitibano. Mas o “time de estabelecimentos” da rua está desfalcado.

Na última quinta-feira, por exemplo, o ‘Bem Paraná’ esteve na região e contou, ao longo de três quadras (entre a Alameda Dr. Muricy e a Rua Barão do Rio Branco), nove estabelecimentos com as portas fechadas. Entre eles estavam uma loja de celular, uma loja de tênis, uma antiga agência bancária, duas lojas de óculos (sendo que uma delas se mudou para outro ponto na mesma via), uma loja de vestuário e três estabelecimentos que pertenceram a diferentes redes de varejo (um desses estabelecimentos até foi dividido em dois para facilitar a locação, mas metade do espaço segue sem encontrar um locatário).

“Quando eles fecham [as lojas], a gente nem fica sabendo do motivo. Só avisam o pessoal que vai fechar e aí nós ficamos sabendo pelos colegas que trabalham nesses lugares que a loja vai sair”, conta o vendedor de uma varejista que segue operante na região.

“O que vemos é o avanço do online, né? Ainda temos uma boa movimentação de pessoas aqui na rua, muito vai e vem, mas é cada vez mais comum as pessoas pesquisarem e comprarem produtos no online, o que vai diminuindo o volume de vendas pra gente”, comenta ainda outro trabalhador, citando também os altos valores de locação e a degradação da região central (com falta de segurança e crescimento da população em situação de rua) como problemas para quem vive do varejo no Centro.

Número de empresas encerrando atividades dispara na capital paranaense

Portas fechadas ou fechando, no entanto, está longe de ser uma exclusividade da região central ou até da própria capital. No Brasil, não é de hoje que o mercado de empresas é marcado pela alta rotatividade, com um constante “abre” e “fecha”. Mas nos últimos anos, a parte do “fechar” é que tem se tornado mais frequente.

Um ano antes da pandemia do novo coronavírus, em 2019, 213.631 empresas haviam sido abertas no Paraná, segundo dados do Mapa de Empresas, enquanto 85.022 acabaram encerrando as suas atividades naquele mesmo ano. Já em 2023, o número de empresas abertas no estado ao longo do ano chegou a 280.074, mas o de empresas encerrando as atividades saltou para 152.251.

Ou seja, o número de empresas iniciando as atividades no Paraná cresceu 31% entre 2023 e 2019, mas o número de empresas fechando as portas cresceu 79% no mesmo período.

Em Curitiba — onde uma empresa foi encerrada a cada 14 minutos no ano passado, em média —, a situação é parecida. Em 2019, 52.878 empresas foram abertas na cidade, número que quatro anos depois cresceu 29% e chegou a 68.205. Ao mesmo tempo, no entanto, o número de empresas fechando as portas na Capital praticamente dobrou, passando de 19.315 fechamentos em 2019 para 37.961 em 2023.

Números
Empresas abertas no Paraná

2023: 280.074
2022: 268.393
2021: 270.839
2020: 234.317
2019: 213.631
Empresas fechadas no Paraná
2023: 152.251
2022: 121.241
2021: 104.836
2020: 76.720
2019: 85.022
Empresas abertas em Curitiba
2023: 68.205
2022: 65.183
2021: 66.126
2020: 59.242
2019: 52.878
Empresas fechadas em Curitiba
2023: 37.961
2022: 30.292
2021: 26.105
2020: 18.559
2019: 19.315