Divulgação – Oracene e Richard

As norte-americanas Venus Williams e Serena Willians entraram para história do tênis como as maiores de seu tempo. Poderia até ser de todos os tempos. Somente de torneios de Grand Slam – os quatro principais do circuito anual do tênis, que são Aberto da Austrália, Roland Garros (França), Wimbledon (Inglaterra) e US Open (Estados Unidos) – Venus conquistou sete troféus. E Serena faturou 23. Algumas vezes, inclusive, uma irmã enfrentava a outra na decisão. Jogando em duplas, elas venceram todas as 14 finais de Grand Slam que disputaram, sem contar outros títulos do circuito. Ambas foram líderes do ranking mundial e constantemente se alternavam no primeiro e no segundo lugar. Mais que isso: para chegar lá, desafiaram preconceitos, estereótipos e dificuldades. Estava na hora de ganharem um filme. Mas a abordagem foi diferente nas mãos do diretor Reinaldo Marcus Green: ele mostra como as duas realmente chegaram lá, em ‘King Richard: Criando Campeãs’, que estreia nesta quinta-feira (2) em Curitiba.

O foco do filme não é nas duas tenistas, mas em Richard Williams (Will Smith), pai de Venus (Saniyya Sidney) e Serena (Demi Singleton). A mãe delas, Oracene (Aunjanue Ellis), tem mais três filhas, as meninas Yetunde, Lyn e Isha, de seu primeiro casamento. Todos moram juntos em uma pequena casa em Compton, subúrbio de Los Angeles. Embora todas as cinco meninas recebam o carinho e os valores rígidos de Richard, é nas irmãs Venus e Serena que ele concentra suas atenções. Ele vislumbrou que elas poderiam ser campeãs de tênis, antes mesmo delas nascerem. Richard trabalhava como segurança noturno e, de dia, levava-as para treinar em praças públicas. E sonhava alto. Sempre dizia que tinha as melhores tenistas do mundo em suas mãos, mas não conseguia convencer ninguém. Naquela época, começo dos anos 90, era inimaginável que duas meninas negras conseguissem se sobressair num esporte para brancos e ricos.

Para que as duas chegassem ao topo, Richard tinha um plano. Consistia basicamente em treino duro, tanto físico quanto mentalmente. Isso incluía humildade sempre. Era um obstinado. Por causa disso, muitas vezes foi presunçoso, arrogante e polêmico. Descartou oportunidades que à primeira vista pareceriam irrecusáveis. E não se furtou de trocar de treinador. Para ele, se era pelo bem das meninas, estava valendo. Para sorte dele, Richard sempre teve o amparo da mulher, Oracene, essa sim o grande e discreto ponto forte da família, de pés no chão, que permitiam que Richard sonhasse. Oracene mantinha o orçamento da casa em dia e também ajudava nos treinos, inclusive para corrigir erros que Richard deixava acontecer. Muito do poder e da perseverança da família passa por ela, ainda que ele nem sempre reconhecesse.

O grande destaque de ‘King Richard: Criando Campeãs’ é quando entram em cena os treinos e os jogos de tênis, muito bem filmados por Reinaldo Marcus Green e editados por Pamela Martin. Por outro lado, a história segue a linha básica de cinebiografias do esporte. Há o momento de início, o de dificuldade, o da virada, o da dúvida, o da apoteose. Faltou espaço para a carreira profissional das duas tenistas – principalmente a de Serena, um ano mais nova que Venus – e do tamanho da quebra de paradigma que elas causaram ao mostrar que um esporte de elite pode, sim, ser para todos, por que não? Mas isso aparentemente foi uma estratégia para se tirar o foco de eventos amplamente documentados, como a lista de vitórias e troféus que as duas tenistas conquistaram. O importante era mostrar que tudo saiu de acordo com o plano de Richard.

O que Richard Williams não planejou é: como ficaria o coração se as duas irmãs se enfrentassem, por exemplo, em uma final de Grand Slam (sendo que isso aconteceu oito vezes)?