Se forem considerados os períodos de que temos registro, ou que podemos inferir por pesquisas arqueológicas ou antropológicas, a família é uma instituição/entidade móvel. Desde as famílias tribais de vários povos, em que não havia “propriedade” de cônjuges ou filhos, até a família nuclear que foi modelo aceito e praticado em grande parte do Ocidente até há algumas décadas, estabelecendo o ideal de funcionamento da sociedade.
Esta família patriarcal foi estabelecida a partir de relações de poder em que o homem dominava os “meios de produção”, começando pela prática da caça e guerras, controlando o comércio e a cultura, e tendo por fim primazia nas atividades de controle político.
Foi apenas a partir da segunda metade do século dezenove que mulheres passaram a ter protagonismo real na política, na economia, na arte, respeitadas as poucas exceções, e surgiram os primeiros movimentos articulados de direitos da mulher. No século vinte, o direito de voto, o maior acesso à educação formal, a abertura do mercado de trabalho e a libertação sexual proporcionada pela pílula anticoncepcional marcaram um processo ainda incipiente, não de igualdade, mas de relativa equivalência de direitos entre mulheres e homens.
A família não acabou como consequência disso, a família não acabará nunca. A família passou e passa por mais uma das muitas alterações de sua história, em que não há apenas um “modelo” correto e aceitável: temos uma maioria de famílias tradicionais, marido/esposa/filhos, as famílias de pais separados e de segundos casamentos, as famílias de dois “pais” ou duas “mães”, as famílias em que uma pessoa assume o papel duplo na criação de filhos, as famílias sem filhos, há tantas famílias quanto as modalidades de relacionamento e vivência humanos.
No entanto, um grande consenso nos estudos sobre a fase infantil e infanto-juvenil é que a família está intimamente relacionada aos problemas emocionais e de comportamento expressos na infância e na adolescência. Família é um conjunto de relações e emoções que tornam difícil definir um tipo de comportamento padrão e normas de funcionamento, cada caso é um caso, e entender atitudes de indivíduos isolados dentro dela não é simples. Cada célula familiar é um sistema próprio, parte de processos que envolvem a sociedade como um todos e em particular a comunidade em que se insere, já que cada participante dela tem distintos trabalhos, diferentes grupos de amigos, praticam diferentes esportes, não tem sempre a mesma concepção de lazer.
Desentendimentos em família surgem exatamente destas discordâncias de interesses ou necessidades entre seus componentes, e algumas vezes chegam até a precisar de intervenção judicial, causando um desgaste aos que se sentem lesados em seus direitos.
Conflitos domésticos, com destaque para relacionamentos confusos entre pais e filhos, ou desentendimentos conjugais severos, são relativamente comuns na fase da adolescência e adulta jovem e ocorrem por variados fatores, principalmente aos vinculados ao cotidiano. Em geral, aquele responsável pelas atividades ligadas à intimidade e funcionamento estrutural familiar – refeições, pagamento de contas, compras, verificação de estados das vestimentas, etc.. costuma gerar mais conflitos com os demais membros, embora esta pessoa costume também ser mais amorosa.
Existem profundas diferenças entre os adultos responsáveis pela organização destes relacionamentos, pais ou tutores tradicionalmente tem um de seus componentes voltados ao mundo externo e responsáveis pela convivência comunitária, enquanto outro mais ligado à proteção dentro de casa, intermediando as relações entre os membros da família.
Entretanto, é o conflito conjugal que mais atinge a todos, pois transborda, semeia discórdias e algumas vezes violência, influenciando negativamente os demais relacionamentos.
A adolescência, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), compreende o período entre os dez e dezenove anos de idade. Já segundo o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), o período da adolescência ocorre dos doze aos dezoito anos de idade, mas independente da delimitação clara de idade, representa período do desenvolvimento caracterizado por transformações biopsicossociais; nela ocorre a puberdade, processo responsável por proporcionar mudanças no corpo, sejam elas internas ou externas.
O amadurecimento dos filhos não ocorre da mesma maneira, pelo fato de a puberdade começar mais cedo no sexo feminino, e assim rapazes e garotas têm diferentes visões sobre suas vidas sociais e familiares, e se distinguem pela personalidade, mas na busca pelo grupo de amigos formam diferentes redes dentro de uma mesma casa, e pensamentos, desejos e valores dos adolescentes passam a ser diferentes daqueles criados e passados pela família.
A construção da identidade do adolescente deve-se igualmente à família e ao círculo de amigos, às procuras por autonomia e independência, e isso pode suavizar ou até acirrar os embates caseiros.
Relacionamentos interferem diretamente nas atividades escolares, melhoram ou pioram o processo de ensino-aprendizagem, e são essenciais para a formação de nossas crianças e desenvolvimento econômico de qualquer país.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.