Embora necessitemos contato social, seja em família ou no trabalho, o equilíbrio emocional e a manutenção da saúde física e mental pedem também um tempo em recolhimento, de leitura ou meditação, um certo equilíbrio entre falta e excesso.
O extremo oposto também se revela um imenso problema de saúde pública, o isolamento social, estado no qual indivíduos tem cada vez menos envolvimento com suas comunidades, familiares ou não. Poucas interações sociais cotidianas parecem provocar o aumento da mortalidade por múltiplas causas, principalmente para os idosos, nas suas diferentes características sociais, culturais, econômicas e ambientais, que são carentes de espaços de sociabilidade e de interação entre eles, famílias e cuidadores, ligados estritamente ao binômio saúde-doença.
Num tempo em que ódios e agressividades parecem imperar, precisamos uns dos outros, de autoaperfeiçoamento e boa coexistência, e também de um tempo a sós, embora o trabalho seja essencial.
A complicação parece estar na nossa quase impossibilidade de adotar medida adequada entre o trabalho, que tem sido visto como centro único e absoluto da vida dos indivíduos, e aquelas prazerosas de ler, meditar, assistir filmes, fazer atividades esportivas e conviver com a família.
São comuns os casos em que quando o trabalhador se aposenta entra em depressão, pois perdeu mais do que parte de sua renda, perdeu a própria identidade.
É visível que atualmente as pessoas passam uma parte considerável de seu tempo no trabalho, e a vida educacional em muitos casos parece apenas dedicar-se a preparar pessoas para esta etapa. Contrariamente ao bom senso, que pede uma educação mais inclusiva e preparatória para a compreensão do mundo, para domínio da carga de conhecimento acumulada pelos seres humanos ao longo de todo o progresso civilizacional, e desenvolvimento das habilidades necessárias aos inter-relacionamentos, do qual se beneficiariam inclusive as empresas no médio prazo, educar para o mercado é uma visão utilitária do processo educacional, que forma pessoas apenas para o trabalho e não para a vida. Visão curta e imediatista, que não contempla a formação completa de alguém solidário, cidadão.
O trabalho cumpre um papel central na vida de todos, o que é compreensível pois uma fonte de renda para sobrevivência é essencial, porém não constituiu um hábito saudável organizar toda a vida em torno das atividades profissionais, em prejuízo das suas próprias vidas e da dos seus familiares.
A vida centrada no trabalho parece ser a regra nas empresas modernas e o único caminho para alcançar sucesso na carreira, como se renunciar à vida pessoal aumentando da carga de atividades e a quantidade de horas que se consome nelas fossem indícios de maior envolvimento com a organização e denotassem uma pessoa melhor.
A exaustão emocional, sentimento de esgotamento, mas também o cinismo na dimensão relacional, respostas negativas, de indiferença ou excessivamente desligadas principalmente dos colegas, tem sido observada e traz problemas graves de saúde não apenas no plano pessoal, como também para a própria organização.
Infelizmente tem acontecido com cada vez mais frequência entre professores, cuja função principal é orientar os demais no atingimento de uma vida mais plena, alegre e participativa. Professores sem lazer, sem tempo ou possibilidade financeira para dedicar-se a atividades culturais, deixam de ser bons parceiros de jovens e crianças nas ações recreativas, fundamentais para uma vida plena.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.