Nesta época do ano costumamos tomar resoluções para nossa vida no período que está se iniciando. São variadas, embora na verdade de forma geral versem sobre saúde física e mental, trabalho, vida afetiva.

Parar de fumar, beber menos ou nada, trabalhar menos ou mais, ler livros esquecidos, assistir peças e filmes novos ou velhos, estudar, começar ou recomeçar um curso, reatar velhas amizades, dizer a pessoas queridas o quanto são queridas, dizer a pessoas detestadas o quanto as detestamos, cuidar melhor da alimentação, praticar mais exercícios: viver melhor e com mais verdade.

Quase tudo isso, com as devidas exceções, embora congelado num tempo ínfimo/infinito para passar de intenção a gesto, é praticamente o que sempre deveríamos ter feito, mas de algum modo vamos perdendo as noções do que queremos, gostamos ou precisamos ao longo da vida. É como se nos escravizássemos a pequenas autocomplacências que se tornam imensas, o cigarro após o cafezinho, a terceira taça de vinho, os compromissos inúteis que assumimos em nossa vida profissional, a lassidão que impede que façamos tantas coisas que desejaríamos e que fariam bem para nossa autoestima. Comemos quantidades enormes de carne, carboidratos, açucares, o que compromete nossa saúde e é escandaloso num país em que milhões não podem escolher o que comem.

Toda jornada bem sucedida começa pelo conhecimento do destino, destino que pode mudar ao longo do caminho mas é o balizador do caminhante. Na efeméride de Ano Novo é auspicioso cumprimentar entes queridos, desejar saúde, felicidade e prosperidade a todos, e também decidir ser uma pessoa melhor; no entanto todas estas decisões esbarram, na verdade, naquilo que chamamos força-de-vontade, ou seja, a capacidade de realizar o que sabemos que precisamos fazer ou deixar de fazer, coisas que muitas vezes nos fazem mal e minam nossa saúde quando não as pomos em prática, nos afastam do sucesso profissional ou mesmo de nossos amigos/familiares. Mas o que é exatamente esta força, e como podemos melhorar aquela(insuficiente) que temos em nós tem sido o cerne da questão.

Psicólogos e médicos dizem que ela está relacionada ao nosso poder de autocontrole, o que não é simples de desenvolver ao longo da vida, embora a tendencia ao autoengano seja grande; normalmente nos julgamos mais poderosos do que efetivamente somos, e a promessa de não comer o segundo pedaço de bolo, de não tomar a terceira taça de bebida, de não gritar mais com as crianças, de não fazer novas compras sem ter pago a anterior, terminam sendo minadas apesar de todas as excelente intenções que tivemos a princípio.

Ao mesmo tempo, é cada vez mais claro a pesquisadores que existe uma estreita correlação entre a determinação de cumprir as propostas que estabelecemos visando nossa própria melhoria e o estado que denominamos de vida equilibrada e vitoriosa, o que pode parecer obvio mas definitivamente não é fácil de obter. Demonstramos muitas vezes a incapacidade de lembrar, realmente lembrar, aquilo que queremos com mais intensidade: ter saúde ou fumar? Emagrecer ou comer todo o pudim? Controle financeiro ou novas roupas no armário? E assim por diante…

Tudo se passa como se aceitássemos perfeitamente um autoengano, verdades que existem, ou não existem, dependendo da presença ou não daquilo que nos tenta, uma espécie de deliberação condicionada, ou seja,  uma força de vontade fake news.

Não sabemos exatamente sobre o próprio autocontrole, a imagem que temos de nossa capacidade não é real, falamos de um desconhecido que julgamos muito melhor do que realmente é quando consideramos a nós mesmos. E muitas vezes criticamos com severidade pessoas que parecem tranquilas com suas limitações pessoais, como se fossem acomodadas, esquecendo que nossa revolta com a situação em que nos encontramos é resultado apenas de nossa inanição.

As Resoluções de Ano Novo correspondem a um desejo que deveria ser profundo; por um instante pensamos em quem somos, em quem nos tornamos, e avaliamos o que poderia nos fazer melhores.

Feliz Ano Novo para todos nós, com boas decisões e boas práticas para torna-las realidade.      

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.