Nenhum país evoluído que deixou de investir fortemente no desenvolvimento da ciência e tecnologia em todos os segmentos: ciências exatas, ética, saúde, antropologia, estética, alimentação, comunicação, educação e outras. Afinal, foi a ciência que garantiu nossa saída das cavernas, nos livrou dos grilhões do medo e da fome.

Cientistas são incômodos, não aceitam verdades fáceis, fazem perguntas, pesquisam, não atendem aos interesses ligeiros de populistas; por esse motivo, desde sempre, foram perseguidos como hereges, feiticeiras, inconformistas. O presidente do país mais rico da Terra, justo o que mais se beneficia dos avanços da ciência, comete a insanidade de negar verdades provadas à exaustão como mudanças climáticas e aquecimento global, num aparente retorno ao sistema de crenças voluntaristas da idade média. Para agravar o obscurantismo, ainda propõe retirar seu país da UNESCO, a organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura.

O movimento global Marchas pela Ciência nasceu em oposição à forte tendência de negação do conhecimento baseado em evidências, que é a essência do método científico. Cada vez mais assume-se a teoria de que contra argumentos não há fatos, representada na doutrina trumpista da pós-verdade, em que vale a afirmação do poderoso de turno, e não o que se pode ver ou provar. Estas marchas partem de alguns princípios simples, como esclarecimento de que a ciência serve ao bem comum, ao apoio de educação científica de crianças e adultos para o pensar crítico e um raciocínio lógico, sem as perspectivas mágicas com que tendemos a fugir da realidade, quando tudo nos parece difícil.

Políticas públicas de financiamento na área são indispensáveis, tanto quanto em saúde – pois não se trata apenas de cuidar daqueles que estão doentes, mas também de desenvolver novos tratamentos, equipamentos e remédios melhores e mais eficazes para evitar doenças. Todo dinheiro aplicado em pesquisa reverte com certeza para maior bem-estar social; promover o interesse de nossas crianças e jovens por esta área de atuação auxiliará um desenvolvimento econômico sustentável, diminuindo as desigualdades.

Nos Estados Unidos, as agências científicas oficiais sofreram cortes brutais no orçamento, principalmente aquelas voltadas a áreas não ligadas a armamentos e interesses diretos da grande indústria. No Brasil, em grave crise econômica que realmente demanda austeridade em gastos, os institutos de pesquisa perdem recursos em dimensão desproporcional ao encolhimento geral da economia. Comprova-se o imediatismo de nossas políticas públicas, sempre descompassadas de um planejamento estratégico real e aparentemente focadas mais em realizações marqueteiras.

Contrariamente à afirmação de que o momento é de emergência e que ciência custa caro demais, sendo possível comprar tecnologia de outros países, pode-se mencionar: Embrapa, Fiocruz, Museu Goeldi e milhares de instituições voltadas ao estudo e pesquisa em todas as áreas, que têm muito a mostrar como resultados científicos e tecnológicos indispensáveis ao país e à sua independência intelectual e econômica.

Trabalhos científicos podem demandar décadas e ter custos altos em laboratórios, materiais, livros, equipamentos, e muitos deles correm o risco de não apresentar resultados práticos a curto prazo, algumas teorias de Albert Einstein só foram comprovadas recentemente, quase cem anos após terem sido formuladas.
Pesquisadores, cientistas, professores, os alquimistas modernos que estudam e transmutam a matéria e o imaterial, podem estar de partida, há o risco sério de que desistam de um país que aparentemente desistiu deles.