Estúdio Pied-à-Terre, assinado por Luiz Otávio Debeus na CASACOR SP 2023, traz referências a décadas passadas com a padronagem do papel de parede e a paleta de cores que estampa as almofadas e cúpulas dos abajures. Foto: Romulo Fialdini/CASACOR

Pode notar: sempre que um estilo do passado volta a ser tendência, é porque precisamos da moldura do passado para entender um novo momento do mundo. Mesmo que nossas escolhas sejam individuais, não há como escapar das grandes ondas de comportamento da sociedade.

Escolhas de cor, forma, textura e padronagem refletem, conscientemente ou não, uma visão de mundo, afinal, a decoração sempre comunica valores e emoções. Você deve ter notado que, nos últimos tempos, móveis, papéis de parede, paleta de cores e materiais usados em arquitetura e decoração dão um leve aceno às décadas de 1960 e 1970. Essa busca por referências do passado é uma das maneiras de se reconectar ao familiar e a tempos mais simples, em que as mudanças não eram tão velozes.

Formas mais orgânicas ou rebuscadas, estampas ricas maximalistas, materiais naturais como madeira maciça e fibras (como rattan, junco e vime), tecidos como linho, seda e algodão, bem como mármore, vidro, cristal, couro e metais trazem proximidade à natureza e se contrapõem ao digital e sintético – ainda que uma mescla entre natural e sintético também seja uma proposta comum, há grande oferta de materiais que imitam a aparência e o toque de elementos da natureza.

A busca por formas orgânicas, por exemplo, pode ser um sintoma de um anseio por um contato mais próximo à natureza e a intenção de criar uma atmosfera mais rica e envolvente nos interiores. Estampas botânicas, florais e padrões românticos e à la Art Nouveau sinalizam o mesmo. Na marcenaria, aparecem mais acabamentos rebuscados, com molduras, detalhes, entalhes e ornamentos. Nas paredes, itens decorativos como espelhos antigos, memorabília, cerâmica rústica, entre outros elementos artesanais, compondo com papéis de parede em cores quentes invernais ou pastilhas sextavadas que formam padrões.

Outra tendência é a busca por móveis autênticos de décadas passadas, peças únicas e repletas de personalidade. A riqueza de sua composição sinaliza o valor que damos à durabilidade que o mobiliário carregava em tempos anteriores, alinhando-se à ideia de sustentabilidade.

A velocidade da evolução tecnológica e o constante lançamento de produtos tem sido vertiginosa há pelo menos uma década. O resultado é uma simplificação de formas e silhuetas e uma escolha por cores neutras em tons de branco e cinza; um minimalismo que pode tornar um ambiente inerte e pouco caloroso. A digitalização e o mundo virtual permitem complexidade nas telas, mas o suporte físico muitas vezes é reduzido a um retângulo preto.

Em um cenário onde a tecnologia permeia quase todos os aspectos da vida, a estética vintage oferece um refúgio da presença digital constante. Ela aponta para uma sociedade que procura autenticidade, conexão emocional e equilíbrio entre o mundo moderno e o passado. Formas, cores e texturas que estão presentes há mais tempo em nosso imaginário trazem conforto em meio à tanta mudança por conterem histórias e ativarem nossas memórias.

A nostalgia, um cobertor para a alma em tempos complexos como os que vivemos, é um bom sinal de que estamos conscientes de que não há futuro sem olhar para o passado.