Foto1 Reprodução Cavalera São Paulo Fashion Week
Desfile da Cavalera, na São Paulo Fashion Week, levou fashionistas para o Tietê e apresentou roupas feitas com restos de coleções anteriores (Reprodução Cavalera São Paulo Fashion Week)

Em 2008, quando eu cobria São Paulo Fashion Week, a Cavalera fez um desfile diferente: colocou os jornalistas de moda em uma balsa e nos levou para navegar pelo Rio Tietê até certo ponto, onde encontramos os modelos desfilando roupas feitas de refugos de suas coleções passadas. Foi tudo curioso. O lugar do desfile, a poluição do rio, a roupa superurbana da marca feita de materiais reaproveitados, provocando um déjà vu inevitável. Pensar em tudo aquilo foi inevitável, aliás.

De lá para cá, houve outros episódios de grifes flertando com a sustentabilidade. Há algumas que fincaram os dois pés nessa aposta, como é o caso da Osklen. Na gringa, a mesma coisa. Stella Mac Cartney reforçou sua verve ativista, mostrou que é possível fazer luxo a partir de materiais comuns. Se bem que o próprio luxo entrou em xeque, né? Dez anos depois daquele desfile da Cavalera, vi uma exposição de um estilista mineiro radicado no Paraná, o Ronaldo Silvestre, que apresentou uma coleção de moda escultórica feita de restos de jeans. Ele ainda trazia uma conversa sobre as mulheres costureiras, que defendem e bancam famílias inteiras, praticando a mais pura moda social.

Passou tanto tempo e a sustentabilidade ainda é tema recorrente, mas causa estranhamento. Grandes e pequenas marcas falam disso, lutam as mesmas lutas, vivem discutindo os limites entre luxo e lixo, consumo exacerbado e estilo a todo custo. No LabModa, que aconteceu no último fim de semana em Curitiba, teve mais desse diálogo. Defender a roupa feita aqui, por profissionais locais, que ajudam a girar a economia local, estimulam mentes criativas, subvertem as grandes cadeias de consumo, defendem a moda mais ecológica, mais social, mais responsável. A H-AL, por exemplo, esteve lá, fazendo sua moda contemporânea, que também reaproveita materiais de descarte, reborda tudo com imagens e frases que nos fazem pensar. Teve isso e mais, muito mais. Cada vez mais gente legal faz roupa boa para o planeta. Acho que chegou a hora de a gente fazer tudo diferente. Estilo também pode ser bandeira.