
A deputada estadual Marcia Huçulak (PSD) entrou de cabeça na campanha do agora prefeito eleito a pedido do próprio candidato. E seu papel, que no primeiro turno já foi significativo, no segundo se tornou decisivo. Com a disputa acirrada entre Pimentel e Cristina Graeml (PMB), o apoio dos servidores municipais, magoados com a atual gestão, e os votos dos eleitores dos candidatos do campo progressista, que podiam se transformar em votos nulos, passaram a ser cruciais para a eleição. E aí a articuladora Marcia Huçulak entrou em ação de novo: reaproximou Pimentel dos servidores e se reuniu com lideranças progressistas para uma campanha contra o voto nulo e a extrema-direita.
Márcia contou ao blog como se tornou um dos principais nomes da articulação política de Eduardo Pimentel. Com Paulo Martins (PL) já definido como vice, ela recebeu Pimentel em seu gabinete na Assembleia Legislativa e ouviu dele que a queria trabalhando na campanha. Marcia tinha restrições ao nome do vice, que, segundo ela, a atacou duramente durante a pandemia, quando era secretária da Saúde de Curitiba. Num acordo com Pimentel, a deputada se comprometeu a fazer campanha, mas longe do vice. “Eu vou te ajudar, mas não gravo com o Paulo Martins”, disse a deputada ao candidato.
A escolha do vice, aliás, ajudou a afastar ainda mais os 40 mil servidores de Pimentel, relembra Marcia. Isso porque o grande contingente de servidores da Saúde – em torno de 10 mil – lembrava do histórico de ataques de Paulo Martins à atuação de Márcia Huçulak e, por tabela, de toda a saúde pública de Curitiba no atendimento à covid-19.
Já no primeiro turno, conta a deputada, aconteceu a aproximação do candidato do PSD com a saúde na cidade. “Fui com Eduardo a todos os serviços de saúde da capital. Não fomos aos espaços públicos, a lei não permite. Mas na saúde privada, fomos juntos. Mostrei a minha cara. Eu sou bastante conhecida na saúde como um todo”, contou ela.
Mas a participação mais crucial viria com o segundo turno e a inesperada disputa com Cristina Graeml. A candidata adversária sabia das decepções dos servidores com a atual gestão e apostou forte nas críticas ao prefeito Rafael Greca e ao vice, agora candidato. Já com a coordenação geral do deputado Alexandre Curi na campanha de Pimentel, Marcia entrou em campo e começou a fazer reuniões com os vários sindicatos de servidores, que acabaram resultando em cartas de compromissos assumidos por Eduardo Pimentel com as diferentes categorias.
Com os servidores, a articulação de Marcia Huçulak acabou sendo ajudada por propostas e declarações da própria candidata adversária. Ao disseminar a informação falsa de que a prefeitura distribuiu cartilhas com tema LGBT às crianças da rede municipal, Cristina Graeml revoltou boa parte dos profissionais de educação. E sua declarações contra a vacina da covid, por outro lado, causaram rejeição entre os profissionais da saúde.
No fim do primeiro turno também ficou evidente que Pimentel dependeria dos votos dados aos candidatos do campo progressista, principalmente de Luciano Ducci, que fez mais de 190 mil votos no primeiro turno e ficou em terceiro lugar. Ducci estava numa coligação que envolvia o PT, que indicou o vice, Goura, e os partidos da Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV). Como trazer para Pimentel os votos de petistas, por exemplo, para uma candidatura que tinha na sua chapa um vice do PL de Jair Bolsonaro? Um número alto de votos nulos poderia funcionar a favor de Cristina.
“Na quarta-feira antes do primeiro turno, vimos que o segundo turno seria contra ela. Eu logo disse: nós não vamos virar votos dela. Precisamos buscar os votos dos outros”. E quem tinha mais votos era Ducci, do PSB, aliado do PDT, PT, PCdo B e PV. Ou seja: só partidos mais à esquerda.
A articuladora Marcia conta que conversou com o presidente do PT estadual, Arilson Chiorato, e também com o próprio Luciano Ducci sobre a campanha de Pimentel. “Ducci não iria apoiar Pimentel, tinha problemas com o Greca, o Pimentel, o Paulo Martins”, conta Marcia. O PT também não daria apoio. Mas o que a campanha queria não era esse apoio explícito mesmo, já que isso seria usado pela adversária para atacar Pimentel. Mas nenhum dos partidos dessa coligação pregou voto nulo.
Em seguida, o Iprodes (Instituto Pró-Democracia Sempre) fez contato com a deputada e assumiu uma campanha contra o voto nulo. Juntaram-se à campanha várias lideranças políticas do PT e PCdoB, além de outras lideranças ligadas a diferentes setores, como universidades, por exemplo. A campanha foi ganhando corpo e se espalhou pela cidade e contribuiu para que número de votos nulos fosse até um pouco menor que no primeiro turno (41.082 no segundo turno, contra 47.728 no primeiro). Pimentel fez 576.029 votos, contra 390.254 votos dados a Cristina Graeml.
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