Uma escola, como qualquer organização, não existe isolada da comunidade em que se insere, modifica e é modificada pelos vetores sociais, seja no sentido do desenvolvimento e adaptação, seja em instabilidades ou resistência às mudanças. Assim, ela não é indiferente aos problemas, desafios, oportunidades, e riscos, como por exemplo o da violência, que eventualmente afetam sua macrorregião. Toda estruturação social humana, as escolares em especial sendo unidades essencialmente comunicativas e de convivência, tem a responsabilidade de contribuir para a resolução de problemas na coletividade, e ainda também resolver seus próprios conflitos e dissensos de forma argumentada.
E um dos graves problemas que afetam a sociedade brasileira hoje é o comportamento absolutamente não sustentável, entre eles a nossa aparente incapacidade de coexistência equilibrada com animais: estamos levando muitos ao aniquilamento, principalmente os de grande porte, como elefantes, zebras, grandes felinos, e permitindo a proliferação desenfreada de outros, seja por falha no trato com nosso lixo (ratos, baratas) seja com o abandono e quase ausência de política pública de castrações, como as de gatos e cachorros.
De certa forma, estamos nos omitindo em relação a estas questões e, no entanto, são as escolas que ensinam também um subcampo de atuação profissional em que se prepara pessoas para, por meio de animais, provocar mudanças comportamentais ou orgânicas naqueles com diferentes tipos de necessidades especiais.
Isso não é recente, registros do século IX já versavam sobre a utilização de animais em tratamentos de pessoas com deficiência, e ainda antes de 1800 na Inglaterra estes também foram utilizados em terapias com pacientes com esquizofrenia, preparando-se jovens médicos para esta atividade. No Brasil, apenas com a atuação da médica Nise da Silveira realizados no hospital psiquiátrico Dom Pedro II no Rio de Janeiro foram feitas as primeiras tentativas terapêuticas com animais, mas ainda são incipientes os envolvimentos acadêmicos com esta área, cujos benefícios vão desde a redução dos comportamentos violentos, melhora na habilidade motora, acolhimento e segurança, e principalmente interação social.
Instituições de ensino são também locais propícios a discussões sobre a interação humana com o mundo animal, comunicação de pensamentos e sentimentos, além de local de desenvolvimento moral, dado que ali existe todo um processo de construção de regras de coexistência, para manutenção de relações de confiança e respeito. Ao lado do desenvolvimento cognitivo, que facilita o acesso a um maior número de informações para manejo futuro das complexidades do mundo, é na ampliação do relacionamento afetivo que se promove a exploração mais eficiente do próprio corpo e do espaço ao redor, para interagir com o meio ambiente de forma integral.
Uma boa escola estrutura-se de modo a levar seus participantes a reaprenderem – no sentido de modificar um comportamento inadequado –  modos de vida que não prejudiquem as próximas gerações, inclusive as de outras espécies que não a nossa, assumindo valores em que todos possam ser interdependentes sem escravização, a cooperar respeitando diferenças, a ampliar a reciprocidade e autonomia. 
Com toda a atual revolução tecnológica que nos permite saber tudo o que se passa em todas as partes do planeta, quase como se fossemos oniscientes, ou até tivéssemos o dom da ubiquidade, pois a tudo assistimos como se estivéssemos presentes, é incrível como podemos estar indiferentes a este imenso problema – entre outros – que estamos gerando. Destruir alguns animais pode representar inclusive a diminuição de nossa faculdade de oferecer terapias para doenças que nos provocam sofrimento e incapacitação para o mundo do trabalho. Imersos no ruído constante de nossas comunicações, envolvidos em multidões, recebendo milhares de mensagens diárias, nossa sociedade por um lado aumenta nossa criatividade, e por outro arrisca-se a nos levar à extinção por pura inércia.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil..