Seis brasileiros vão viver hoje um capítulo único de suas vidas, na abertura da Copa do Mundo do Catar. Luiz Lopes, Caique Wlâdier Lima, Cristian Magno, Sara Jéssica, Amanda Gomes e Amanda Ferreira não são turistas que decidiram viajar ao Oriente Médio para acompanhar o torneio. Até chegarem ao jogo Catar e Equador, precisaram encontrar dentro de comunidades no Brasil maneiras de realizar seus sonhos.

Eles disputaram um torneio de futebol 3×3, organizado pela Central Única das Favelas (Cufa) e a fabricante de material esportivo Adidas que, entre os meses de maio e outubro deste ano, mobilizou 348 atletas amadores – 132 mulheres e 218 homens. As partidas foram disputadas em quadras revitalizadas dentro de comunidades nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Goiânia e Manaus.

O presidente da Cufa São Paulo, Marcivan Barreto, acredita que o impacto social por meio do esporte nas comunidades vai além da Copa do Mundo. “Temos um espaço lindo em Heliópolis agora e queremos incentivar a prática esportiva. É sensacional que alguns desses jovens vão ter a oportunidade de conhecer outro país graças às nossas ações de formação de lideranças, empreendedorismo, educação, lazer, cultura e cidadania realizadas há mais de 20 anos em cinco mil favelas por todo o Brasil”, comentou Barreto.

SELVA DO FUTEBOL
Luiz Lopes, de 28 anos, conseguiu se tornar professor de Educação Física graças a ações realizadas pela entidade. Nascido no bairro Petrópolis, zona sul de Manaus, ele conheceu Caique e Magno jogando bola e resolveram fazer um trio para disputar o campeonato. “Pude, por meio de muito esforço, ser a primeira pessoa da minha família a ter diploma universitário. Há problemas sérios dentro das nossas comunidades e o futebol é uma forma de ir por um caminho correto na vida.”

Trabalhando no projeto Guerreirinhos, o professor manauara tenta levar às crianças a oportunidade de praticar o esporte e chegar ao alto rendimento, de dar um direcionamento para elas como pessoas e também como atletas.

“A Cufa é muito presente nas comunidades de Manaus e atua em ajudar a transformar a realidade socioeconômica”, destaca Luiz, que pôde assistir aos quatro jogos realizados em Manaus na Copa de 2014, mas nunca havia sonhado em sair do Brasil e está animado com o que vai aprender com uma cultura bem diferente da nossa.

Ele tentou ser jogador profissional, assim como Cristian Magno, de 24 anos, natural de Parintins e hoje morador do bairro Monte das Oliveiras, na capital do Amazonas.

Cristian chegou a jogar futsal e futebol no Chipre, passando pelo Anorthozis Famagusta e o Apoel, de Nicósia, principal clube do país europeu, mas não conseguiu permanecer e atualmente trabalha com transporte de cargas.

BARREIRA VENCIDA
Dos três do time Sociedade E.C., apenas Caique, de 24 anos, conseguiu se manter no futebol profissional. Nascido no bairro da União e morador do Riacho Doce, em uma das áreas com grandes problemas socioeconômicos de Manaus, ele vive a realidade da maioria dos jogadores de times com menos recursos e expressão no Brasil, com salários bem mais modestos do que 1% da categoria chega a ganhar em grandes clubes do eixo Sul/Sudeste, e principalmente jogando no exterior.

Contratado pelo Tombense, de Minas Gerais, o meia-atacante disputou a Série D do Brasileiro deste ano pelo São Raimundo, do Amazonas.

Para o trio feminino do Carioquinhas, foi preciso se mudar do Rio de Janeiro, Estado natal do grupo, para tentar viver da bola. Amanda Gomes, de 24 anos, nascida no Complexo do Lins, Sara Jéssica, de 18, natural do bairro de Padre Miguel, e Amanda Ferreira, de 23, da cidade de Silva Jardim, no interior fluminense, passaram no início deste ano em uma peneira promovida pelo Aliança Futebol Clube e foram convidadas a se mudar para Goiânia e disputar o campeonato estadual local para mulheres.

CHANCE DE OURO.
Vivendo na região Centro-Oeste, souberam do torneio de futebol 3×3 e decidiram tentar a sorte. “Sempre gostei de jogar bola e meus irmãos tentaram a carreira de jogador também, mas só eu consegui me profissionalizar na minha família. Nunca imaginei poder sair do Brasil e assistir a uma Copa do Mundo in loco”, conta Amanda, que complementa a renda como motorista de aplicativo em Goiânia.

“Temos esperança de que, com a vitória que tivemos, possamos atrair mais meninas para realizarem seus sonhos e que consigam mudar a realidade das comunidades em que vivem. Nós temos capacidade para isso”, acrescenta a jogadora.