Divulgação / Warner

Multiverso, viagem no tempo, linhas temporais diferentes e outros conceitos do gênero têm sido explorados em filmes para explicar versões diferentes dos mesmos personagens contracenando com eles mesmos. Esses fatores, inclusive, têm sido usados muito mais frequência nos últimos tempos. Eles podem render um monte de Oscars – como em ‘Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo’ – ou podem render estranhezas – como em ‘Doutor Estranho no multiverso da Loucura’ – apenas para ficar entre filmes de 2022. Se esses conceitos explicam bem ou não o porquê de tais interações, tanto faz. Seja com o for, é o que move ‘Flash’, mais um filme de super-herói, que estreia nesta quinta-feira (15) em Curitiba.

A explicação para ‘Flash’, contudo, está fora da telona e envolve os bastidores da DC Comics – dona de super-heróis como Batman, Superman, Mulher-Maravilha e Flash – e a Warner, que é dona da DC Comics. Recentemente, o estúdio anunciou uma reconstrução completa de seu universo de HQs no cinema, e que a cabeça pensante por trás do novo universo era o diretor James Gunn (da trilogia ‘Guardiões da Galáxia’). Mas isso causou uma confusão na cronologia de diversos personagens, já solidamente estabelecidos nos filmes. A essa altura, anunciou-se que Henry Cavill não interpretaria mais o Superman, que o Batman seria reformulado (de novo), que o Adão Negro de Dwayne Johnson seria apagado do cânone e que o destino da atriz Gal Gadot como Mulher-Maravilha e de Jason Momoa como Aquaman era incerto.

É aí que entra o Flash. O herói deveria ganhar um filme próprio há pelo menos três anos, baseado na HQ ‘Ponto de Ignição’ (‘Flashpoint’). Mas problemas externos interferiram no filme do velocista. Entre eles, a pandemia e as polêmicas pessoais causadas pelo ator Ezra Miller, que interpreta o herói – além, claro, da ordem dos chefões da Warner para reformular tudo. Para sorte da DC, Flash seria o personagem ideal para dar um reinício total no universo DC no cinema. Com seus poderes de correr a velocidades quase infinitas, ele pode até voltar no tempo. E, como a história do cinema cansou de mostrar, voltar ao passado e alterar fatos traz consequências imprevisíveis para o futuro. Prato cheio para uma reconstrução universal.

No filme, o Flash descobre que sua velocidade é capaz de levá-lo ao passado, onde ele pode impedir que sua mãe seja morta com uma facada e que seu pai seja culpado e preso pelo crime. Apesar do aviso de Batman (ainda interpretado por Ben Affleck) para não fazer isso, porque as consequências seriam desastrosas, é exatamente isso que ele faz. E, se Batman falou, está falado: as coisas não saem com esperado. Barry Allen, o Flash, até reencontra a mãe viva e o pai livre. Mas descobre que tem que interagir com uma versão dele mesmo dez anos mais jovem, e ainda sem poderes. Isso enquanto o general kriptoniano Zod (Michael Shannon, reprisando o papel visto em ‘Homem de Aço’) está prestes a acabar com tudo. Para completar, nessa linha do tempo não existe Superman. E o Batman está com mais de 60 anos.

Um dos méritos do filme é o “fan service”. Destaque para o Batman sessentão. Interpretado por Michael Keaton (que deu vida ao personagem há mais de 30 anos), ele parece até melhor que o visto nos filmes de 1989 e 1992. E, se não tem Superman, ao menos tem a Supergirl (Sasha Calle), ainda que diferente da versão clássica dos quadrinhos. Por outro lado, o excesso de CGI, mesmo quando não necessário, incomoda. Além disso, não é sempre que o diretor Andy Muschietti consegue equilibrar o humor inerente a Barry Allen e a ação inerente ao Flash. Para a Warner, pouco importa. O importante é a missão de zerar o universo e começar tudo de novo. Hora de um novo universo, uma nova linha temporal. Fim de uma era, começo de outra. E, nela, é pouco provável que o Flash ainda continue sendo Ezra Miller.