Toda  festa  quebra  a  continuidade  quotidiana  da  existência, marca um tempo novo, assume decorações  características daquela época do ano, e deixa pessoas mais dispostas a cantar ou dançar, organizar ou assistir espetáculos que relembrem a data ou sejam manifestações regionais da cultura daquele local. 

Festas normalmente subvertem a ordem social, autorizam a ser mais rebeldes, mais alegres e menos hierárquicos, e por isso são muitas vezes utilizadas, desde o século XX,  como  uma   ferramenta  de fiscalização e de controle pelos dirigentes municipais e políticos de forma geral; e por normalmente serem épocas de abandono das atividades  produtivas,  o ambiente urbano renovado e enfeitado termina criando   um   senso comunitário em nossas sociedades  costumeiramente polarizadas e fragmentadas    e    promovendo    identidades partilhadas.

Festas religiosas como o Natal não fogem à esta regra: marcam  a  vida  de  cada  dia, renovam esperanças, afastam inquietações  e   preocupações  do  momento,  problemas  familiares,  doenças do envelhecimento,  crianças desobedientes e até as tensões políticas.

Esta  quebra  da rotina é  encenada:  as  ruas ficam divertidas e coloridas, brilhantes durante o dia e cheias de fogos de artifício durante a noite, como se o sonho  invadisse mundo  real.  As pessoas vivem esta época do ano como se não fossem mais  as  mesmas, suspendem as regras da vida normal, esquecem mazelas e muitas vezes estabelecem rituais de aproximação, uns com os outros ou  com  o  divino.

Algumas cidades brasileiras inclusive fazem deste evento um grande arrecadador para seus municípios, como é o caso do “Natal Luz”, que se realiza, anualmente, na cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul. Tal evento festivo tem repercussão nacional e até internacional, incrementando turismo e movimentando os diversos setores produtivos, comerciais e de serviços privados e públicos da cidade, e por isso declarado patrimônio histórico e cultural do estado.

Mas o Brasil possui muitas outras festas de caráter religioso que movimentam cidades, como a Festa do Bonfim, ou da Lavagem do Bonfim, que é realizada na cidade de Salvador (Bahia) no Dia de Reis, e reúne católicos a religiosos de matrizes africanas, um dos melhores exemplos de sincretismo religioso, alegre e solidaria. Outro bom exemplo é o Círio de Nazaré, em Belém do Pará, uma das maiores procissões católicas do país.

Nos últimos anos temos assistido também o inevitável aumento da criminalidade com roubos e furtos se tornando mais comuns em função da distração que a decoração feérica, as ofertas de alimentos e a música provoca, embora tais comemorações sejam também marcadas pela existência de trabalhos temporários, no comercio, serviços e até industrias, que auxiliam a subsistência das famílias.

O trabalho sazonal em função das festas populares tem um papel decisivo nas finanças do país como um todo, e algumas regiões tem nelas sua principal fonte de renda. Ocasiões festivas, como o Carnaval em praticamente todas as cidades de norte a sul do país, as festas de São João no Nordeste, a Festa do Peão de Barretos e a Romaria em Juazeiro do Norte, aquecem gastronomia, o setor hoteleiro e envolvem a geração de milhares de empregos, injetando milhões de renda extra na economia local.

Assim, empresas desenvolvem processos de recrutamento, seleção e contratação ágeis e rápidos para não perderem muitas oportunidades de negócios por falta de mão de obra, o que movimenta setores como treinamento, vestuário, cursos de idioma e outros.

Estes eventos não produzem apenas alegria e convivência, trazem também desenvolvimento na área educativa, mais conhecimento e versatilidade nos inter-relacionamentos. Boas festas!

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.