O que conhecemos como “moda” possivelmente tem seu início formal por volta de 1350, embora a força real e mais atual do termo tenha se estabelecido no século 18 com a ascensão da burguesia, que procurava imitar roupas e maneirismos dos aristocratas.

Vinda, talvez, da expressão usada em Estatística para definir os eventos de maior ocorrência em determinado universo de dados, a palavra moda passou a se associar a estilo e, com maior coerência àquilo que “todos estão usando”; e já em meados de 1770 e 1780 temos registros das primeiras revistas de moda, mostrando a importância crescente do tema, naquilo que era considerado o “mundo civilizado”.

O filósofo Kant, de importância seminal e considerado um dos principais da era moderna, tornou-se conhecido como o “elegante Mestre em Artes”, usava sapatos com fivelas de prata e camisas de seda, e declarava sem pejo que: “é sempre melhor ser um tolo na moda que um tolo fora de moda”. Também deixou escrito que a novidade tornava a moda sedutora, e desde então associa-se moda ao novo, o que talvez explique um pouco sua transitoriedade.

Esta, no entanto, não é uma opinião unânime, pois Platão, filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, fundador do que consideramos a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental, havia traçado uma distinção entre a realidade e a mera aparência, entre profundidade e superfície do conhecimento, e associava roupas à beleza, porém considerava esta beleza como fraudulenta. Historiadores costumam afirmar que o ser humano provavelmente cedo deixou de se vestir para aquecimento ou decência, e sim simplesmente para se enfeitar; a roupa parece ter papel fundamental na constituição da individualidade, o vínculo entre moda e identidade sendo constitutivo do que denominamos “eu”.

Toulouse- Lautrec

                                                                                        

Desta forma, a moda costuma ter dois aspectos que parecem conflitantes, mas na verdade são complementares: diferenciação e imitação. Diferenciação entre nós e aqueles que consideramos nossos iguais, e imitação em relação às pessoas de classe social superior à nossa, pois o desejo de emular certas personalidades consideradas acima da média, seja por possuírem mais dinheiro ou por assumirem comportamentos exóticos e artísticos que possam constituir nossos padrões de desejo, e ao mesmo tempo nos distinguir entre nossos pares, traz este aspecto de individualidade e ao mesmo tempo conformidade.

Como, salvo raríssimas exceções mundiais dos extremamente ricos, sempre tem alguém acima da camada em que estamos, por mais acesso financeiro que tenhamos, a frase “use antes que se popularize demais” é característica  de todas as faixas sociais, já que a moda é rapidamente replicada para várias possibilidades financeiras, o mesmo conceito produzido em muitos preços diferentes, a depender de acabamentos e materiais mais ou menos acessíveis.

Afinal, qualquer roupa dificilmente fica velha por ser muito desgastada pelo uso, mas sim por ser muito vista por amigos ou aqueles a quem queremos impressionar, e por isso empresas que hoje lançam linhas de produtos de moda mudam em poucas semanas seus catálogos, buscando o novo por não desconhecerem que serão imitados em versões mais baratas com celeridade, para democratizar esta tendência se ela fizer sucesso.

E evidentemente todos os regimes totalitários fazem cidadãos usar uniformes, o “terno Mao” é um grande exemplo, a tentativa de fazer pessoas não competitivas e iguais resultou em moda no ocidente, e passamos a consumir, em vários versões de tecidos, mais caros e menos caros, em acabamentos de luxo ou populares, aquilo que era para ser igualdade. A moda é o fenômeno mais totalitário mesmo quando é antiautoritária, não admite verdades universais pela sua constante mudança; ela replica a si mesma quando retorna, inova quando apresenta “novidades” como o constante revival de estilos, e inova quando mostra reais singularidades.

Existem profissionais que se especializam em assinalar a “moda das ruas”, aquilo que determinadas pessoas mais criativas ou mesmo exóticas usam, aí sem nenhuma referência conhecida essas roupas, acessórios, calçados, maquiagens, cortes de cabelo, definem as tendencias que nortearão estilistas ou empresários em suas próximas criações.

 É de destacar a importância que atores de novelas, artistas ou apresentadores dão ao que usam; há empresas que atentam para isso e rapidamente levam ao mercado cópias praticamente exatas daquelas roupas ou acessórios.  

Nas escolas, professores, coordenadores e diretores preferem uniformes, para que a diferença entre os estudantes possa ser realmente a intelectual, e não a monetária, onde todos se vestem igual apenas atitudes e dedicação aos estudos seriam distinguíveis.

No entanto, alunos aprendem rápido a “customizar” seus trajes igualitários, com pequenos detalhes que efetivamente muitas vezes fazem a diferença de forma significativa, com complementos que transformam e mostram inovação. A moda é soberana mesmo nos ambientes escolares, e assim hoje ela constitui novo campo de estudos.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.