Summertime / And the livin’ is easy” (Verão, e viver é fácil). “Porgy and Bess”, a ópera de George Gershwin passa-se em um gueto racial onde a vida nunca é fácil, mas é verão…

A Bossa Nova só poderia ter surgido na Zona Sul carioca nos luminosos anos 1950, trata de temas universais da arte: amor, dor, desejo, perda, saudade, mas com harmonia e letras macias e otimistas. Nada como compositores de lugares mais “sérios” conseguiriam, ou desejariam, fazer.

O “Zeitgeist”, Espírito do Tempo descrito por Hegel, está quase sempre ligado ao ambiente, ao clima, às cores. Até praticamente o início do século vinte a maioria das pessoas raramente convivia com algo além de seu entorno, e isso definia temperamentos, pensamentos, arte, existiam de modo claro as culturas locais, e até nacionais. As indústrias do Turismo, financiando passagens e hospedagens, e da Comunicação trazendo aos cinemas e outras mídias as paisagens e hábitos de “outros lugares”, tornaram real a ideia de Aldeia Global levando a lugares escuros e gelados o Sol dos trópicos, e aos trópicos a neve natalina da Groelândia.

O pessimismo, comumente definido pelas pessoas como a tendência para ver e julgar as coisas pelo lado mais desfavorável, tem uma definição um pouco mais completa em Filosofia, pois ali é visto como uma doutrina metafísica – ou moral – segundo a qual os aspectos maus ou negativos da existência superam os bons ou positivos, por isso cunharam frases como: “o maior erro do homem foi ter nascido”, e que a busca pela felicidade é um “erro inato”. Portanto, uma estruturação doutrinária dedicada à elaboração sistemática de uma compreensão do pessimismo humano foi estabelecida.

Para as mulheres, este foi sempre um campo minado, pois para elas “dizer não” tem sido sempre associado ao pessimismo, ao posicionamento negativo diante do mundo, enquanto o sim é considerado solar, franco e indicador de estar de bem com a vida. No entanto, talvez uma grande característica de muitas mulheres seja a incapacidade de dizer não. Dizer não, simplesmente.

Seja para convites sexuais indesejados, para atividades teoricamente de lazer que não divertem nada, para trabalhos exaustivos e não recompensados; em resumo, dizer não ao que não se quer fazer, expor-se claramente diante de outros, sem medo de perder o seu amor, sem medo de perder o seu emprego, sem medo de magoar seus pais, de ser considerada chata e mal-humorada e principalmente resistir aos assédios que enfrentamos no cotidiano.

É sabido que a regulação emocional envolve um conjunto de processos cognitivos, neurofisiológicos, comportamentais, conscientes ou inconscientes. Depende, evidentemente, da forma pela qual as pessoas foram educadas, seu desenvolvimento durante a infância, e se está ou não em tratamento psicoterápico, que tende muitas vezes ao melhor   controle da dinâmica de cada emoção e identificação das respostas emocionais nas diversas situações agradáveis ou desagradáveis da vida, nos comportamentos considerados otimistas ou pessimistas.

Expressar emoção positiva, como a alegria, ou negativa, como tristeza, não é suficiente para que se defina a qualidade da resposta emocional mesmo para um homem, mas é extremamente delicado para uma mulher, pois dela se espera passividade e aceitação. À mulher, é praticamente vedado o não… ela é pessimista, não colaboradora, pouco amorosa, nada solidária, sem empatia quando diz não.

O termo pessimismo, tendo como seu oposto a noção de otimismo, é usualmente tomado em termos filosóficos no sentido ontológico, ou seja, é próprio de visões de mundo cujos princípios cardinais consideram o “não ser” como preferível ao “ser”, pela carga de dor e sofrimento que a vida costuma trazer. Entretanto, a sabedoria de vida, elaboradas a partir da predisposição de transformar o mundo devem associar epistemologias, mitologias, teologias, sociologias, políticas e economias através das quais os povos organizam a si mesmos e aos objetos de sua existência, seus modos de produção, valores, categorizações da natureza;  tudo isso como mero aparato pelo qual possamos reagir.

Como disse Jung, “A cultura sempre foi racialmente construída”, ou seja, somos tradicionalmente otimistas ou pessimistas como condicionante de nossa comunidade, embora existam, evidentemente, pequenas variações individuais.

Wanda Camargo – educadora e assessora do presidente do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.