Site ABCPCC por Gerson Martins

Grande parte da população ainda continua cumprindo quarentena devido ao novo coronavírus, o Covid-19. Porém, aos poucos o mundo vai voltando ao seu movimento. 

Já tivemos a UEFA anuciando as fases finais da Champions League, outros tantos esportes anunciando atividades para o mês de maio e assim por diante. O Covid-19 vai mudar o mundo (na verdade já mudou), porém existem atividades que podem sim ser exercidas desde que sem aglomerações. Vale lembrar que hoje o comércio de Curitiba reabriu. 

Um grande exemplo é o turfe, que por necessidades físicas dos animais, precisa que seus treinadores, jóqueis, cavalariços e médicos veterinários trabalhem normalmente. Isso nunca parou, nem quando tivemos o chamado “pico de transmissão”, que a cada mês se posterga enquanto um tratamento efetivo não é comprovado cientificamente. 

No último domingo, no programa Turfe na Cidade, tanto Celson Afonso quanto o renomado médico veterinário Flávio Geo, relataram que as atividades matinais envolvem muito mais pessoas que nos dias de corridas. No mesmo programa, uma semana antes, o jóquei Bruno Queiroz explicou que o isolamento é total e seguro quando acontecem as corridas em Cidade Jardim. 

Contudo, a Rede Globo de Comunicação e o prefeito Pastor Marcelo Crivella discordam. E fizeram questão de deixarem claras estas situações em uma matéria que passou no programa Fantástico de domingo. Matéria esta que demonstra o péssimo nível do jornalismo brasileiro hoje em dia. 

Não foram buscar as informações verdadeiras, tão pouco a assessoria dos clubes para que os dois lados fossem ouvidos. Apenas juntaram imagens da internet (vídeo do YouTube), compararam o turfe a outros esportes que necessitam de aglomerações e contato físico e, por fim, imputaram um vídeo amador do referido pastor/prefeito falando que “as corridas de cavalo estão proibidas pois causarão aglomeração de público idoso nas agências espalhadas pela cidade”. 

A “preguiça” da reportagem foi tão grande, que buscaram prints das páginas dos clubes – JCSP e JCB – para expressar as opiniões do Jockey Club Brasileiro, do Jockey Club de São Paulo, do sindicato dos profissionais paulistas e do Governo do Estado de São Paulo. É tão difícil conversar com estas assessorias? 

Parece que sim, pois foram utilizados textos que estão nos sites dos clubes há mais de uma semana. O mesmo foi feito quanto ao decreto do Governo do Estado de São Paulo. Na manhã de hoje, no noticioso Bom Dia Rio, também da Rede Globo, inseriram na matéria original falas do Presidente do JCB, Luiz Alfredo Taunay. Provavelmente porque ele pediu o direito de resposta. 

Hipocrisia: 

O que chama a atenção nesta matéria é a hipocrisia, tanto do pastor/prefeito quanto da emissora que mais deve impostos no Brasil. Sinceramente, parece matéria comprada, de tão hipócrita que ela se torna ao ser discursada por estes dois. 

A começar pelo prefeito Pastor Marcelo Crivella. Há duas semanas ele emitiu decreto municipal autorizando a reabertura do comércio. A mesma foi barrada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, que emitiu decreto proibindo serviços não essenciais ate o dia 30 de abril. 

O mesmo prefeito, preocupado com suas igrejas, então começou uma campanha para que fosse liberada a abertura das mesmas, dizendo que era um serviço essencial. Tanto ele quanto a bancada evangélica conseguiram isso, e muitas igrejas evangélicas estão abrindo e causando aglomerações. Claro, o pastor/prefeito em nenhum momento gravou vídeo falando a respeito da periculosidade disso. 

Também nunca gravou vídeo falando a respeito das igrejas evangélicas que são utilizadas na periferia do Rio de Janeiro para lavar dinheiro do tráfico de drogas e das milícias. Este sim um tema de conhecimento público e que daria uma ótima matéria no Fantástico. Entretanto, parece que a emissora carioca não tem intenção de passar esta informação aos seus telespectadores. 

Na entrevista de ontem, ele, mesmo contrário ao decreto estadual, aproveita para utilizá-lo como justificativa para o Jockey não abrir. Ainda afirmou que o maior prejuízo seria “pois as agências lotariam de idosos”. Será que ele, que pediu a abertura do comércio há duas semanas, realmente está preocupado com isso? E vou mais além, será que ele sabe que as agências se encontram fechadas? Que as apostas acontecem por telefone e sites? 

Informação essa que a reportagem da Globo não fez questão de inserir na matéria, provavelmente por que os repórteres não sabem. Como disse acima, o nível do jornalismo caiu muito. Se souberem é ainda pior, pois além de omitir a informação ainda distorcem fatos para que sua opinião editorial faça sentido. 

E o que falar da Rede Globo em relação ao Covid-19? Ela critica o turfe por envolver cerca de 50 profissionais por reunião, em um espaço de milhares de metros quadrados, mas não conta que só no estúdio principal do Fantástico ontem tinham mais de 20 pessoas aglomeradas. Fora a equipe da ilha de edição e etc. 

O prédio do administrativo da emissora hoje conta com quase uma centena de funcionários trabalhando, mesmo com a oportunidade do home office. Isso mesmo, quase uma centena utilizando os mesmos banheiros, mesmo estacionamento, elevador, portaria e etc. 

Sua grade de programação vai voltando ao normal, tanto no canal aberto quanto nos canais fechados. Nos jornais da Globo e da Globo News algo muito curioso: atrás da bancada aparece a redação cheia e funcionários sem máscaras. Nestes mesmos jornais temos estúdios com 20 pessoas se “aglomerando”. 

A hipocrisia é ainda maior quando lembramos que, na última sexta-feira, depois do governador carioca barrar a volta dos treinos do Clube de Regatas Flamengo, grande produto da emissora este ano, diversos jornalistas e comentaristas da emissora se mostraram revoltados com a decisão. 

Olha que absurdo! Reunir mais de 200 pessoas no CT do Urubu diariamente na opinião de alguns jornalistas da Rede Globo é aceitável, mas termos uma vez por semana 50 profissionais trabalhando nas reuniões turfísticas é inadmissível! Passivel de denúncia no maior programa da rede, o Fantástico. 

Enfim, um festival de hipocrisias na matéria de ontem relacionada ao turfe paulista e carioca. Tanto do prefeito Pastor Crivella quanto da Rede Globo. 

Consequências da reportagem: 

Provavelmente não teremos consequências em Cidade Jardim, uma vez que na reportagem fica claro o texto do decreto estadual que diz “que atividades que não são essencias serão passíveis de fiscalização das condições”, o que já deve ter acontecido em Cidade Jardim. 

Já no Rio de Janeiro, após a declaração do Pastor Marcelo Crivella, aguardaremos até o dia 30 de abril, quando o Governo do Estado colocará um novo decreto ou não. Existe a possibilidade da reunião do dia 03 de maio ser cancelada caso a quarentena total perdure por mais 15 dias. 

No Jockey Club do Paraná e Rio Grande do Sul tudo certo. Em Curitiba os comércios abriram parcialmente hoje, com a obrigatoriedade de todas as pessoas usarem máscaras nas ruas sob pena de multa. Já em Porto Alegre, a própria prefeitura autorizou a realização das corridas. 

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