Estão abertas ao público, as mostras dos projetos selecionados no
terceiro Edital Bolsa Produção para Artes Visuais 2008, o programa
artístico mais ambicioso do Fundo Municipal da Cultura. Numa
iniciativa da Fundação Cultural de Curitiba e concebido com o objetivo
de incentivar diretamente as manifestações de artes visuais
desenvolvidas na cidade, a Bolsa Produção provê R$ 23.000,00 para
desenvolvimento de cada projeto. Ao final de um período de dez meses a
um ano, são realizadas simultaneamente as doze exposições
individualizadas em que se mostra a produção resultante.
Desta vez, os artistas participantes são Cláudia Washington, Fábio
Noronha, Glauco Salamunec, Lílian Gassen, Juliana Burigo, Milla Jung,
Marga Puntel, Ana Godoy, Marcelo Scalzo e Gláucia Flügel, e ainda os
grupos Couve-Flor e Orquestra Organismo, que reúne os artistas Lúcio de
Araújo, Simone Bittencourt e Guilherme Soares.
O Grupo Couve Flor Minicomunidade Artística Mundial, formado pelos
artistas Elisabete Finger, Neto Machado e Ricardo Marinelli, saiu a
campo fotografando e filmando pessoas e aspectos da cidade, material
este que foi trabalhado em recortes que reúnem contraposições e jogos
de repetição de imagens. O próprio título da exposição “INFILTRAÇÕES
procedimento nômade para café, praça, vídeo e sala de exposição”,
aponta para o chiste, brincadeiras, ilusões de imagens e perspectivas
reunidas de modo inteligente e com certo humor.
São RAIOGRAFIAS GENEALÓGICAS, as obras em que Glauco Salamunec
investiga o temporal, o parentesco, o passado, expondo com
sensibilidade fotos em que se pode ver o resultado da passagem dos anos
nas imagens que já envelheceram e sofreram danos, riscos, e mesmo
assim, sobreviveram para contar sua história. Pode-se dizer que a
sensibilidade do filme e das fotografias replica na maneira sensível do
artista ao recuperar estas imagens.
ARMADILHA é a denominação escolhida por Claudia Washington para sua
exposição, que trata da inserção de intervenções artísticas na paisagem
e nos elementos rodoviários da cidade. Fundamentadas na geometria e nas
cores, estas composições também remetem para o próprio sentido viário,
sugerindo traçados rodoviários.
Por sua vez, Fábio Noronha enfrenta seus próprios medos num trabalho
sério em que parodia seu próprio corpo e a máscara, numa psicanálise da
imagem que envolve o artista e o receio – o componente primevo e perene
do gênero humano.
Assim, é destacada a presença constante de todo um referencial que tem
início ainda na infância, quando são inculcados – pelos outros – os
cuidados e os perigos nas crianças. Os outros, que podem ser definidos
como todos aqueles que delas se aproximam, desde empregados, parentes,
amigos e até os próprios pais que, no excesso de cuidado, passam a
exagerar os perigos. Este universo fóbico é complementado pelos pavores
descritos nas histórias infantis, como acontecia algum tempo atrás, e
ocorre hoje através dos desenhos animados e jogos eletrônicos. Aliás, o
medo e seu complemento – o mistério – estão presentes em toda história.
O que seria do cinema – por enquanto, a maior indústria de
entretenimento do mundo – sem eles?
A exposição TENHO MEDO DE MIM, MESMO, junto às citadas acima, estão
abertas ao público no Museu da Gravura Cidade de Curitiba. (Solar do
Barão – Rua Carlos Cavalcanti, 533 fone 41-3321-3334).
Ao fotografar a construção comercial na esquina das Ruas Bruno
Filgueira e Carlos de Carvalho, Milla Jung revela a duplicidade desta
imagem em todos os sentidos, tanto formal quanto informal. O contraste
geométrico da arquitetura – que parafraseia Mies van der Rohe – versus
a natureza representada pelas duas palmeiras eretas, as quais, por sua
vez, também estão amparadas em suportes triangulares, criam o
estranhamento de um mundo irreal, artificial, indefinido, no qual o ser
humano não tem vez. Este efeito é salientado ainda mais pela
informalidade dos tecidos que cobrem os vidros e pelos reflexos em
silhueta e as sombras nas paredes. A duplicidade da foto também pode,
à primeira vista, ser interpretada como uma única fotografia repetida
pela fotógrafa, o que não é verdade.
É, isso sim, o real que somente o olho privilegiado de Milla Jung
captura. Sua exposição intitulada DESERTO DE REAL está no Museu da
Fotografia Cidade de Curitiba, o mesmo endereço do Solar do Barão.