
Uma das mais tradicionais bicicletarias de Curitiba, a Américo Bikes, localizada no bairro São Lourenço (R. João Guariza, 638), praticamente ao lado da ciclovia, ganhou recentemente um inusitado visitante e que já virou também mascote do estabelecimento. Trata-se de uma garça, que até mesmo nome já recebeu do público e pelo qual, efetivamente, ela atende: Magali.
Proprietário da bicicletaria, José Américo dos Reis Vieira, mais conhecido como Américo, conta que Magali começou a dar as caras por ali há cerca de dois meses. Antes, o local tinha um jacu, o Maneta, como uma espécie de mascote. Agora, a garça ‘herdou’ o posto e aparece por ali, geralmente, cinco vezes ao dia, sempre batendo à porta de Américo na bike escola que fica ao lado da loja e oficina de magrelas.
“Ela vem de manhã, aí vem depois, de meio-dia, vai embora e depois ela volta”, conta Américo.
Quando a ave chega, todos os presentes já param para acompanhar as inusitadas cenas que se seguem: com um pote em mãos, Américo sai fazendo uma batucada improvisada e chamando a amiga-ave pelo nome. Ela o segue até a loja de bicicletas, atravessa a oficina mecânica e vai até os fundos da loja, onde fica a cozinha e também onde estão guardados os peixes que Américo compra para agraciar a inusitada amiga.
“Ela que foi vindo, começou a frequentar aqui. Sempre aparecem umas garças na região, elas vêm comer peixe aqui no rio [Belém]. Antes vinham mais, hoje é menos porque tem menos peixe aqui no rio. Não por causa da poluição, mas porque tem o pessoal que vem pescar e joga aquelas redes de arrasto”, relata o empresário e ciclista.
A relação entre os dois começou a se estreitar um dia desses quando Américo pegou um peixe com um pescador que estava no Rio Belém e o deu para Magali. Hoje, ele compra a carne branca para alimentar a amiga. Para esta semana, por exemplo, o cardápio será de lambari.
Mesmo com a amizade entre os dois, porém, Américo conta que chega perto da garça, no máximo, uns 50 centímetros. Uma medida de segurança não só para ele, mas principalmente para ela. “Evito chegar muito perto para ela não dar essa liberdade [de outras pessoas encostarem nela], até porque pode ter gente que quer fazer mal, então é melhor que ela fique sempre esperta”, explica.
Curioso, ainda, é a forma como o ciclista reconhece que é, realmente, a sua amiga que está nas redondezas. “Eu reconheço ela pela pata. Tem um dedo quebrado e que calcificou errado, ficou para cima. Ela sempre tá xingando a galera, tá com o dedo para cima [risos]”, brinca Américo.
Uma história que daria (e vai dar) um livro
Nascido em Manaus, Américo pedala desde os anos 1960 e a rotina com as bikes um dia acabou o trazendo até Curitiba. Veio, gostou e acabou por estabelecer raízes na capital paranaense, onde vive desde 1984, quando montou sua primeira oficina, a Park Bike. Em seguida também criou uma bike escola e, em 1990, montou ainda a Bike Tour, uma espécie de agência de cicloturismo, uma das primeiras a oferecer esse tipo de serviço no Brasil, explorando, com viagens em grupo, as belezas de localicades como a Estrada da Graciosa, em Quatro Barras, e de municípios litorâneos como Morretes em Antonina.
Na bike escola, por exemplo, ele atende pessoas de todas as idades, desde crianças pequenas até idosos com 80 anos. Os depoimentos dos alunos estão carinhosamente guardados num livro de recordações, nos quais constam mensagens de carinho e agradecimento ao professor que lhes ensinou a superar os próprios limites.
A mundo sob duas rodas, aliás, já proporcionou muitas coisas a Américo. Entre elas está um improvável encontro com Che Guevara, em Manaus, poucos anos antes do falecimento do guerrilheiro. À época, o manauara não sabia que o homem bem vestido e que se apresentara a ele como médico era quem era. Chegou a combinar de levá-lo para conhecer Manaus no pedal, mas não houve tempo para o passeio, já que o argentino foi embora certo dia, ás pressas, sem se despedir do amigo recém-conhecido. Inicialmente, Américo não compreendeu uma partida tão apressada. Anos depois, porém, ao ver a capa de uma revista que noticiava a morte de Che Guevara, deu-se conta de que aquele era o homem que falava castelhano com quem havia tido contato anos antes, em sua cidade natal.
Na verdade, Américo tem tanta história para contar nesses 60 anos de pedal que em breve sua vida deve ganhar um livro, que já está sendo escrito por sua amiga, Wilma.
Trabalho social em meio à pandemia
Em meio à pandemia do novo coronavírus, Américo conta que a demanda por bikes cresceu em Curitiba. Na sua loja, menos do que nas grandes redes, mas ainda assim a saída de bikes e a procura pela oficina tem sido grande. O foco da empresa e do empresário neste momento, porém, não tem sido o lucro, e sim ajudar aqueles que estão em vulnerabilidade.
Por isso, desde o início da crise sanitária o ciclista, ajudado por amigos e conhecidos, tem feito doações de cestas básicas para profissionais como cabeleireiros e manicures, que por muito tempo tiveram de ficar inativos, praticamente, por conta das restrições impostas pela Covid-19. Quem quiser ajudar, contribuir com doações (são aceitas cestas básicas e também doações de roupas usadas), pode entrar em contato com a Américo Bikes pelo telefone (41) 3352-2566.
Ademais, com o Natal se aproximando, a Américo Bikes também prepara uma ação especial natalina, com doação não só de cestas básicas, mas também de brinquedos. Algo que já ocorreu no Dia das Crianças, quando a garça Magali, inclusive, marcou presença na entrega de presentes – presentes em dose dupla, já que as crianças eram presenteadas com um brinquedo, enquanto suas famílias ganhavam uma cesta básica.
Novamente, quem quiser contribuir pode entrar em contato com o Américo. Já estão sendo recolhidas as doações para a ação natalina.