‘Isso não é problema meu’, ‘Não tenho tempo’ ou ‘Você sonha demais’: essas são as frases mais comuns quando se fala em trabalho voluntário, mas estão distantes da realidade

Não é preciso santidade para realizar o trabalho voluntário, basta apenas querer mudar a si e entender seu papel de cidadão.

Se tem uma coisa que eu aprendi ao longo desses anos como voluntária é que doar seu tempo para resolver problemas da sua comunidade não é benevolência, é cidadania. Afinal, o problema que está lá e que, provavelmente você não olha, não deixa de existir e ele certamente afeta ou afetará a sua vida.

O fato de desviarmos o olhar não o torna invisível, pelo contrário, o deixa mais potente e ele vira uma bomba relógio prestes a explodir. Pode parecer exagero, mas se reclamamos da violência, da economia, do desenvolvimento das cidades e do país, tudo isso tem ligação com os problemas sociais que precisam ser enfrentados.

Há os que digam: ‘mas eu pago meus impostos, quem tem que resolver isso é o governo. Isso não é problema meu’. De fato existe uma grande parcela de responsabilidade da administração pública, mas o grande x da questão é: qual a sua parcela?

Se o Estado é feito pelos próprios cidadãos, somos nós que temos o dever de cuidar do bem público e participar para além do voto e da fiscalização da atuação governamental, afinal, nem tudo depende do Estado e o conceito de cidadania vai muito além: ser cidadão também é tomar parte da vida em sociedade, participando ativamente no que diz respeito aos problemas comunitários. Desse ponto de vista, a cidadania deve ser um processo constante e coletivo que busca uma sociedade mais igual, mais justa e mais fraterna.

Portanto, o voluntário é o cidadão que entende seu papel social e atua diretamente para a construção dessa sociedade que tanto almeja. Ele assume um trabalho sem ter a obrigação de fazê-lo porque entende que mudanças, sejam elas quais forem, só acontecem com participação.

Existem também aqueles que dizem: ‘eu não tenho tempo’, como se o voluntário fosse um desocupado (risos). Costumo dizer que tempo é questão de prioridade, logo você fará no seu dia e na sua vida aquilo com que estiver mais comprometido. É assim no trabalho quando precisamos escolher entre uma tarefa e outra, é assim na vida quando optamos por ver uma série ao invés de fazer um exercício. É assim no trabalho voluntário. As pessoas que conheço que mais realizam coisas são também as mais ocupadas e que, portanto, teriam mais desculpas para dizer: ‘estou sem tempo’. Entretanto, são justamente elas que sempre fazem acontecer.

É como diz aquela frase do fundador do Rotary Paul Perci Harris: “se quiser que uma tarefa seja bem feita peça para alguém realmente ocupado, ele saberá como fazê-la.”

Também encontramos aqueles que ligam o voluntariado à santidade ou a sonhadores que querem mudar o mundo, esses dizem: ‘nossa, você tem um bom coração!’ ou ainda ‘você sonha demais, você não vai mudar o mundo’. Sabemos que existe um grande idealismo nas pessoas predispostas ao trabalho voluntário, mas é mais que isso. O voluntariado é muito mais sobre se tornar melhor, aprender, sair da sua bolha, se conectar com o mundo real. É mais sobre você do que sobre o outro.

Por isso, há alguns anos, temos reparado que as empresas privadas vêm dando mais atenção aos candidatos que realizam o voluntariado em suas seleções. Isso acontece justamente porque a organização entende que a pessoa que consegue dedicar parte do seu tempo e do seu talento na resolução dos problemas da sociedade é uma pessoa comprometida, consciente, que sabe trabalhar em equipe, que consegue fazer uma boa gestão do tempo e dos recursos, que sabe se comunicar. Competências fundamentais para qualquer profissional do século XXI.

Logo, se você é uma pessoa ocupada, se deseja ampliar sua visão de mundo, se entende sua responsabilidade na vida em sociedade, você pode (e deve!) se tornar um voluntário. Encontre um grupo que tenha sintonia com o que busca, são milhares de focos e direcionamentos em que você pode dedicar parte do seu tempo: desde fiscalização das contas públicas em organizações que investigam e denunciam casos de corrupção, passando por proteção de crianças, idosos, educação, meio ambiente…até a causa animal.

Certamente você encontrará a sua forma de contribuir. Mas, lembre-se sempre: o voluntariado é dúplice, ele te dá na mesma medida que você se dá para ele. Você vai ajudar muito, mas com certeza quem mais sairá ganhando é você.

* Raphaella Caçapava é jornalista, especialista em comunicação, marketing e gestão de negócios, rotariana associada ao Rotary Club Satélite de Curitiba Norte Inspiração.