O palestrante de educação comenta sobre os impactos tecnológicos nas diferentes áreas da economia: “A indústria está se transformando, ela agora é 4,0; os serviços não são mais os mesmos, a agricultura idem; apesar de tudo isso, um setor continua sendo o mesmo, a educação” disse ele. “A sala de aula continua a mesma há 100 anos, os alunos são os mesmos, idem o professor” arremata. Essa foi uma das tantas palestras destinadas à educação que ouvi ao longo desses dez últimos anos. Acredito que a intenção do palestrante tenha sido salientar o papel da educação como arma transformadora de uma nação, porém, apesar desse nobre objetivo, a análise do profissional é errada. A educação talvez tenha sido a que mais se transformou e está sendo impactada diretamente pelas mudanças tecnológicas.

Atualmente não é mais necessário ter um quadro-negro, cadeiras e mesas, não é mais necessário ter sala de aula, muito menos é preciso ir para à faculdade para obter um diploma. Um professor que antes atendia até cinquenta alunos na sala de aula, hoje atende de forma virtual mais de quinhentos alunos. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, o EAD já representa um terço de todas as aulas que ocorrem no ensino superior no Brasil. A previsão é que até 2023, as aulas em EAD superem as presenciais.

Esse crescimento poderia ser maior se não fosse a falta de investimento e de crescimento econômico pelo qual o país está passando. De qualquer forma os avanços tecnológicos que, a cada dia, são mais presentes, ajudam nesse desenvolvimento do ensino à distância. A Realidade Virtual (VR), a internet das coisas, o uso da ciência de dados, a robótica, dentre outras ferramentas tecnológicas, tem ajudado ao desenvolvimento e proliferação da educação remota.

Atualmente, não há dúvidas sobre, se o Ensino à Distância vai emplacar, a dúvida é como ele vai fazer isso. Do ponto de vista democratizador, isso é excelente, porém, no Brasil ainda temos um longo caminho por percorrer. segundo o Censo da Educação Superior do Inep, 4,2 milhões de jovens entre 18 e 24 anos estavam na universidade (18% do total), bem abaixo da meta do Governo que, até 2024, pretende colocar 33% dessa população na universidade. Ou seja, ainda temos 82% de jovens, em idade universitária para ser inseridos na universidade.

A saída mais plausível, seria através do uso intensivo de tecnologias e de ensino à distância. Por outro lado, uma outra explicação para entender o déficit de alunos no ensino superior, talvez seja o pouco valor de mercado que o diploma universitário tem, na visão do aluno. Em um mundo de eminente transformação de relações econômicas e de negócios, talvez seja mais importante as habilidades específicas do que o estudo de uma profissão, ensinada numa sala de aula tradicional por docentes que utilizam exemplos do século passado para entender a realidade atual.

Os Moocs (Massive Open Online Courses), espécie de portal de cursos de especialização que ensinam conhecimentos específicos e aplicados a preços baixos, tem sido mais procurados do que precisamente universidades físicas. Nesses cursos, talvez a certificação não seja mais importante que a intenção de aprender a habilidade específica.

Pode parecer exagerado, mas a percepção é de que algo disruptor e perturbador está acontecendo no mercado de trabalho, cada vez menos regulado e sem muita estabilidade (essa é a parte ruim da história). Assim sendo, a tecnologia torna-se a melhor aliada para tentar resolver essa problemática. Além de investir em tecnologia é necessário modernizar todos os cursos universitários, fazer uma análise crítica e ver se eles atendem às demandas dos seus usuários e, se realmente, eles serão eficientes no processo de geração de renda.

Além disso, investimento em educação serão fundamentais e a melhor utilização de orçamentos governamentais e parcerias privadas serão necessários, assim como ensina a teoria da Hélice Tríplice: universidade-indústria-governo, conectados em prol do desenvolvimento econômico do país.

Ainda há tempo para tratar as melhores estratégias possíveis envolvendo tecnologia na educação, o que não podemos é deixar passar esse momento em que estão sendo decididos os próximos estágios de desenvolvimento dos países através da educação.

Hugo Eduardo Meza Pinto é economista, doutor pela USP em Relações Internacionais, professor da Faculdade Estácio Curitiba