“Informação é poder”. Saber os movimentos de inimigos, os esconderijos da caça, os planos dos concorrentes, os prognósticos do clima, tudo teve e tem grande importância para a sobrevivência e para a conquista e manutenção do poder. Desde a antiguidade os reis e comandantes de exércitos procuraram manter espiões junto às outras nações ou cidades, com isso obtendo vantagens para seus propósitos comerciais ou bélicos.
A manipulação de informações sempre foi arma de ataque ou defesa, levar o adversário a supor que o poderio de que se dispõe é maior ou menor do que o real ocasionando erro tático ou estratégico, e mesmo a desinformação sobre a disposição dos efetivos levaria a equívocos talvez fatais. Como no jogo do Xadrez, a maior probabilidade de vitória está com o jogador que consegue induzir o oponente a mais erros. Talvez o exemplo mais clássico disso se encontre na Ilíada, o mito do Cavalo de Troia retrata uma Fake News: a falsa retirada dos gregos e o “esquecimento” ou oferta de um cavalo de madeira a que os troianos não resistiram, trazendo-o para dentro de suas até então inexpugnáveis muralhas junto com os soldados inimigos que se encontravam escondidos dentro dele.
Com a disseminação dos recursos computacionais o acesso à informação passou a ser privilégio de quase todos, a boa e a má informação. Conhecimentos antes apenas obtidos em enciclopédias nem sempre disponíveis, dados sobre saúde, trânsito, segurança, entretenimento, política, moda, culinária, mecânica de automóveis… tudo isso e muito mais com o uso de equipamentos quase minúsculos e impensáveis há menos de cinquenta anos. Com isso, os estelionatários, golpistas, maus vendedores, maus políticos, encontraram um campo fértil para suas atividades; todo usuário de qualquer rede social já recebeu inúmeras “informações” ardilosas como a de que sua conta bancária foi fechada ou de que foi feita uma compra não autorizada com seu cartão de crédito, com o objetivo de se obter informações que permitam ao criminoso praticar seu crime. Também são comuns notícias falsas de que determinado político teria praticado algo impensável e repugnante, notícias originadas por seus adversários que teriam a ganhar com a desmoralização.
A novidade é sempre assustadora antes de ser tantalizante. A proposta de novos meios de produção, comércio, transportes e, por fim informação é quase sempre tida como destruidora de empregos e elemento de perigo. As primeiras máquinas a vapor que desencadearam a Revolução Industrial realmente eliminaram a necessidade de muito trabalho braçal, e apenas após décadas de desemprego a população em geral colheu seus benefícios. Quando as primeiras locomotivas foram postas a rodar houve até médicos que declararam que o corpo humano não suportaria velocidades superiores a cinquenta quilômetros por hora, que era a velocidade média dos trens. As lojas de departamentos, onde eram oferecidos muitos tipos de mercadorias em “estações”, algo que antecedeu o shopping center, causaram escândalo nas famílias mais tradicionais, assim como o verdadeiro sacrilégio da venda a crédito sem a qual o comércio atual não sobreviveria.
A Tecnologia da Informação ainda sofre as dores do parto, nasceu no início dos anos 1940 em meio a uma guerra mundial e com propósito inicialmente bélico. Embora as gerações nascidas no atual milênio sejam ditas “nativas digitais” e tenham com os recursos cibernéticos uma intimidade que seus pais apenas adquirem com bastante esforço, e imperfeitamente, mesmo esses jovens ainda não naturalizaram as consequência da informação generalizada e desenfreada. Que se pode dizer dos demais?
São comuns os casos de pessoas de todas as idades que marcam encontro com totais desconhecidos a partir apenas de uma “persona” de site de relacionamento, imagem a que correspondem com outra tão pouco real quanto aquela. Felizmente, a maioria desses compromissos não tem piores resultados, mas as exceções são terríveis.
Surpreendem as imagens de pessoas cometendo até crimes em público, não atendando para as milhares de câmeras espalhadas por toda parte, e não percebendo que são filmadas. O que acontece a pessoas mais bem intencionadas mas que não gostariam de participar de reality shows involuntários.
E hoje, com guerras acontecendo de forma cruel e devastadora em vários países, a desinformação exibida por muitos, ao agirem como torcidas organizadas, baseadas apenas em informações obtidas por grupos de Whatsapp ou por “ouvir dizer”, sem pesquisas em fontes credenciadas, sem responsabilidades pelas opiniões transmitidas, assusta pela desumanidade e deformação de caráter.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Educação Superior do Brasil – UniBrasil.