Somos uma espécie gregária, por sobrevivência na antiguidade e por motivos diversos atualmente.

Gostamos e necessitamos do contato social, do grupo, dos familiares, e isso é fator importante no equilíbrio emocional, além de condição de manutenção da saúde física.

Embora entre os muitos aspectos positivos da socialização, existam também o que poderíamos chamar “doenças sociais”, uma delas a “ostentação”, nada nova mas em autêntico paroxismo nos nossos tempos em que privacidade parece ter se tornado um palavrão. A vida privada, que não se confunde com isolamento, passou a ser proibitiva, sintoma de fracasso social quando as menores ações pessoais devem ser registradas, compartilhadas e “curtidas”.

É natural ter orgulho de realizações e conquistas concretas, que melhorem a vida de quem as obtém, mas há uma transferência preocupante do que seriam realizações para o que tenha custado caro e/ou seja de difícil aquisição não esteja ao alcance dos não “diferenciados”.

A mera exibição de objetos, veículos, joias, roupas, acessórios, com características suntuárias e diversas das que seriam sua finalidade, em muitos casos é um pedido desesperado de ingresso em grupos sociais onde se supõe que essas coisas sejam valorizadas.

No entanto, isso também demonstra quanto “fazer parte” é importante, em todos os segmentos da sociedade; mas parece faltar equilíbrio entre falta e excesso.   

Instituições escolares, além de ministrar conteúdos específicos indispensáveis a uma futura vida profissional – geografia, história, matemática, língua materna e estrangeira e muitas outras, tem como ponto forte propiciar a convivência em grupo, fazendo com que aprendamos desde a mais tenra idade, as regras sociais de convivência, gentileza, solidariedade e empatia.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”, e assim o foco exclusivo na doença vem sendo substituído pelo  estudo das influências exercidas em nossas vidas pela religiosidade, esperança, sabedoria, criatividade, generosidade, que constituem dimensões do bem-estar e qualidade de vida.

Como exemplo pode-se citar o Butão, pequeno país asiático com população inferior a um milhão de pessoas e um dos mais pobres do continente, também considerado o mais feliz e com o ar mais puro do mundo, que cultua a boa convivência e a solidariedade.

Tem ficado cada vez mais claro que um imenso problema de saúde pública é o que denominamos isolamento social, estado no qual indivíduos tem cada vez menos envolvimento com suas comunidades, familiares ou não. A ausência, ou poucas interações sociais cotidianas parecem provocar o aumento da mortalidade por múltiplas causas.

Principalmente os idosos, nas suas diferentes características sociais, culturais, econômicas e ambientais, demandam políticas que busquem espaços de sociabilidade e de interação entre eles, famílias e cuidadores, pois isso tem se mostrado como um marcador para a qualidade de vida; a religião tem sido mais estudada pela ciência, hoje existe abundância de dados sobre o impacto da espiritualidade na vida de todos, a dimensão religiosa/espiritual mostra-se muito ligada ao binômio saúde-doença.

Espiritualidade, fator antes desprezado na saúde física e mental e que no entanto envolve conceitos fundamentais como significado da vida e razão de viver, não se limita a crenças ou práticas, porém é constituinte de fatores indutores da saúde mental; o conceito de qualidade de vida ampliou-se por estudos de base epidemiológica sobre felicidade e bem-estar e pelo movimento de humanização da medicina.

Acima de tudo, precisamos uns dos outros, gostamos de muitos “outros” e devemos valorizar essa realidade num tempo em que o ódio e os comportamentos violentos parecem propagar-se na velocidade da luz. Mais escolas, mais autoaperfeiçoamento e boa coexistência parecem ser a chave da felicidade.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.