Decorridos dois anos do estouro da crise da dívida soberana, precipitada com a quebra da Grécia, a Zona do Euro está em franco movimento recessivo, em função da necessidade de profundos ajustes nas finanças governamentais, com a arrecadação ladeira abaixo. Há também o risco de destruição da união monetária e default do sistema bancário, preso às linhas de assistência oficiais.
Nos Estados Unidos (EUA), a premência de redução do endividamento dos agentes (famílias, governo e empresas) e os interesses eleitorais da oposição republicana, tem barrado o uso de mecanismos fiscais de estímulo ao consumo e à produção. Tanto é assim que a diminuição dos impostos incidentes sobre os salários e a ampliação do seguro desemprego foi prorrogada apenas até o início de 2012. A economia norte americana cresceu 1,7% em 2011 e 1,0% entre o final de 2007 e 2011.
No Japão, o declínio da produção industrial e das vendas no varejo e a deflação vem dando o tom do ambiente de contração, que deve ser corroborado pela constatação, em 2011, do primeiro déficit comercial desde 1979, decorrente da deterioração das exportações em função dos efeitos do tsunami e do terremoto do mês de março, do declínio da demanda da Europa e da valorização do iene.
Por certo, será inevitável o encurtamento dos fluxos de capitais (risco e empréstimos) e, por extensão, a ampliação da aversão ao risco e a evasão dos recursos rumo à qualidade.
No caso das nações emergentes, convém atentar para a formação de um clima menos propício ao acréscimo das exportações, em face do encolhimento da demanda européia, japonesa e norte-americana. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB destes países deve crescer pouco mais de 5,0% em 2012, contra 7,3% e 6,2% em 2010 e 2011, respectivamente.
Em se tratando de China, verdadeira âncora do comércio mundial nos tempos presentes, devem ser acrescidos os efeitos da política monetária menos frouxa, praticada em 2011, para a reversão de uma taxa de inflação de 6,5% ao ano, sobre a demanda e oferta de bens de menor valor agregado. Sobressaem também os inequívocos sinais de deterioração do segmento imobiliário chinês, que representa cerca de 13,0% do PIB e experimentou queda de 25,0% na área construída e de 30,0% nas vendas de unidades habitacionais na planta.
É impossível ignorar que, entre 2008 e 2010, o governo chinês tentou estabelecer barreiras à crise global, ao despejar mais de US$ 5,0 trilhões em crédito no mercado, fazendo a taxa de investimento chegar a 48,0% do PIB. Com a elevação da inadimplência, os bancos estatais já estariam contabilizando cerca de US$ 2,0 trilhões em recursos considerados de diminutas chances de recebimento.  
Não obstante, em princípio soaria razoável supor a não ocorrência de mudanças radicais na curva de demanda por commodities, embalada pelas nações emergentes (responsáveis por mais de 75,0% da expansão da produção agrícola no mundo, por exemplo), e, consequentemente, na formação dos respectivos preços em médio e longo prazo.
O teste e a aceitação dessa hipótese exigiria um exame, ainda que superficial, de um grupo de elementos de natureza geral e específica, subjacentes ao comportamento da oferta e procura global de matérias primas. Por uma ótica mais abrangente, pesquisas recentes, preparadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), projetam mais uma década de ascensão para os preços das commodities agrícolas, baseados nas carnes (50,0%) e cereais, petróleo e biocombustíveis (20,0%).
A estimativa de expansão da produção agrícola é de 1,7% ao ano, contra 2,6% a.a. no decênio anterior, devido à diminuição da superfície de terras aptas para incorporação aos processos produtivos, sendo que 30,0% da cana, 15,0% dos óleos vegetais e 13,0% dos grãos são empregados como matéria-prima para a produção de etanol.
No que se refere ao petróleo, delineia-se um cenário de preços elevados, construído pela condição de ausência de folgas na equação de oferta e demanda e pelos permanentes riscos de descontinuidade no suprimento do óleo, por conta de tensões geopolíticas, principalmente no Oriente Médio, capitaneadas pelas nações árabes e, sobretudo o Irã.

Gilmar Mendes Lourenço, é Economista, Presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), professor do Curso de Economia e Editor da revista Vitrine da Conjuntura da FAE e autor do livro Conjuntura Econômica: Modelo de Compreensão para Executivos. Foi eleito  O Economista Paranaense do Ano de 2011 pelo CORECON/PR e vencedor do Prêmio Imprensa e Quality TV & Jornais em novembro de 2011. Ele escreve às Quartas-Feiras neste espaço.