As estatísticas do desempenho recente do setor industrial do País emitem sinais ainda pouco animadores acerca do futuro de curto e médio prazo, a despeito das esperanças positivas quando aos reflexos retardados dos incentivos à renovação do ciclo de negócios, deflagrados desde o segundo semestre de 2011 nos países centrais e no Brasil, ao lado da impulsão das cotações das commodities alimentares exportadas, particularmente daquelas mais articuladas aos complexo soja, milho e carnes, apesar das inevitáveis repercussões inflacionárias domésticas.
Frise-se que o cenário agrícola ascendente deriva da quebra da safra de grãos no território dos Estados Unidos (EUA), provocada pela maior estiagem em cinco décadas, de acordo com o Departamento de Agricultura (USDA) daquele País. Além de atingir em cheio as lavouras de soja e de milho, a frustração climática deve afetar as transações com outros produtos, em face da necessidade de implementação de mecanismos de substituição para a fabricação de ração e de etanol. A própria Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) recomendou ao governo norte-americano a suspensão do caráter obrigatório da mistura de álcool à gasolina.
Contudo, na prática, persistem elementos de perturbação do lado da oferta e da demanda para a indústria brasileira. Mais precisamente, depois de crescer apenas 0,2% e 0,3% em junho e julho, a produção industrial aumentou 1,5% em agosto de 2012, em relação ao mês anterior, conforme a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fenômeno indicativo de moderada retomada.
Mas, convém atentar para o encolhimento de –3,4% entre janeiro e agosto, reflexo da depressão generalizada das vendas externas e do aumento da concorrência e penetração de produtos de procedência estrangeira (sobretudo insumos e bens de capital) no mercado doméstico, em substituição à oferta interna, em função do ambiente de contração dos preços, ligado à acumulação de estoques no plano global, fenômeno abrandado pelo recente curso de depreciação do real.
Ao mesmo tempo, os níveis de emprego, apurados pela Pesquisa Mensal de Emprego e Salário (PIMES), também do IBGE, encolheram –2,0% em agosto de 2012 em relação ao mesmo mês de 2011, e as vendas reais, levantadas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) cresceram 7,0%. Já os indicadores acumulados entre janeiro e agosto de 2012 acusaram baixa de–1,4% no pessoal ocupado e impulsão de 3,0% no faturamento.
Essa discrepância de direção entre nível de atividade e faturamento carrega uma fraqueza de origem da política industrial brasileira recente, que vem priorizando objetivos de desova de estoques de bens de consumo duráveis, a partir da nova rodada de incentivos baseados no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), e negligenciando a criação de oportunidades de trabalho e a elevação dos investimentos em capital social básico e ampliação da capacidade produtiva pública e privada.
Os descontos foram anunciados na última semana de maio, prorrogado até 31 de outubro de 2012, para veículos, e até 31 de dezembro de 2012, para eletrodomésticos de linha branca, móveis, painéis de madeira e laminados. Houve também a extensão até o final de 2013, da renúncia fiscal do IPI para os materiais de construção, em reconhecimento ao período  temporal médio de realização das obras.
Só a título de ilustração, a fabricação de automóveis variou 2,8% em julho e 1,0% em agosto de 2012 e os estoques diminuíram de 45 dias para 27 dias de vendas entre maio e agosto do corrente ano. Porém, tal fenômeno está associado predominantemente ao processo de antecipação de compras, em um ambiente de alcance de níveis recordes de endividamento e inadimplência dos consumidores. Até porque, a quantidade produzida pelas montadoras foi, em agosto de 2012, apenas 1,0% maior que a do mesmo mês de 2011 e, nos primeiros oito meses do ano, 7,2% inferior a igual período de 2011.
Houve também a interferência, nos resultados do intervalo de tempo em observação, do alargamento das compras externas e do acréscimo das despesas com salários. No caso das importações, constatou-se a maior utilização de insumos e componentes importados pelas empresas, comprados a um câmbio mais depreciado, além do incremento do ingresso de bens de consumo. Cálculos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) revelam que o peso dos produtos importados no consumo doméstico atingiu a marca histórica de 24,0% em agosto de 2012, igualando-se a de dezembro de 2011, depois de ter caído para 22,6% no final de março de 2012.
Já a evolução dos gastos com a folha da mão-de-obra foi determinada, em grande proporção, pela preservação da indexação informal ao reajuste do mínimo superior a 14,0%, desde o mês de janeiro de 2012, em um panorama de menor concentração da safra de dissídios trabalhistas e de discreta performance dos ganhos de produtividade deste fator de produção.
Ademais, as informações de uso da capacidade instalada revelam que o complexo manufatureiro nacional mantém apreciáveis margens de ociosidade. Tal episódio confirma a possibilidade bastante concreta de ocorrência de elevações dos montantes de produção sem a necessidade de construção de novas unidades. Cabe reter que os investimentos dependem de uma apreciação microeconômica do comportamento de outros custos, dentre os quais sobressai os financeiros, tributários e infraestruturais, e do exame da dimensão do mercado atual e potencial.

Gilmar Mendes Lourenço, é economista, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), professor do Curso de Economia e Editor da revista Vitrine da Conjuntura da FAE e autor do livro Conjuntura Econômica: Modelo de Compreensão para Executivos. Foi eleito  O Economista Paranaense do Ano de 2011 pelo CORECON/PR e vencedor do Prêmio Imprensa e Quality TV & Jornais em novembro de 2011. Ele escreve às quartas-feiras neste espaço