É preciso lembrar que somos a única espécie que têm ideias, opiniões, sonhos e que faz Literatura. Desde que as grandes narrativas gregas e orientais deixaram de ser transmitidas apenas no modo oral nós passamos a registrar nossas histórias, dramas e poesia – somos uma espécie que escreve, a escrita sempre esteve ligada à cultura, à vivência e ao ambiente de quem escreve, manifestação inequívoca de seu talento e criatividade.

Nisso, não faria sentido falar em “literatura feminina” apenas em referência àquela produzida por mulheres, mas há algum sentido em considerar que, pelo menos até um tempo bem próximo do nosso, mulheres processam as mesmas experiencias que homens de modo diferente. Não melhor, nem pior, tampouco mais “sensível” mas diferente. Nenhum homem escreveria como Giovana Madalosso, Clarice Lispector, Ligia Fagundes Telles, Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Cecília Meireles, Cora Coralina… para citar apenas alguma brasileiras; suas obras são universais mas só poderiam ter sido escritas por mulheres.

Até o final do século dezenove a produção literária de mulheres parecia raridade, e considerando o critério da publicação era mesmo, com notáveis exceções muito pouco se poderia ler que não tivesse sido escrito por homens, que tinham uma espécie de direito natural de acesso a círculos literários e redações de jornais culturais. Não quer dizer, em absoluto, que mulheres não escreviam, mas muito do que escreviam ficava esquecido em gavetas e baús; podemos imaginar o que se perdeu de textos e poesias de grande qualidade relegados a depósitos ou destruídos por herdeiros que sequer os leram.

Problema comum a todos que criam alguma forma de arte é divulgar sua criação, cineastas que não encontram salas para exibição, músicos e atores sem palco, escritores sem publicação. Todos conhecemos aqueles heróis insistentes que abordam com a pergunta “você gosta de poesia?” e oferecem seus opúsculos e esperanças. Como se apenas talento, inspiração e transpiração não fossem suficientes sendo requerido algo mais, a divulgação, a publicação, a oportunidade.

Divulgar o talento feminino é essencial, e por isso algumas entidades, como por exemplo o UniBrasil Centro Universitário promovem concurso literário voltado a contistas. Neste caso, procura atingir mulheres de até trinta e cinco anos, no mês de março, mês da mulher, com o objetivo principal de abrir oportunidades de divulgação às obras destas jovens; mulheres muitas vezes carecem de oportunidade de mostrar suas produções, e a ideia é provocar nesse concurso um segmento etário em que a produção intelectual vai de incipiente a madura; há outro evento de poesias sem limite de idade.   

Neste ano o Concurso de Contos, já em sua décima edição, faz referência ao Espírito do Tempo, o Zeitgeist dos filósofos alemães, o que não torna mandatório que os contos inscritos sigam este mote, apenas o lembra. Este conceito aplica-se ao clima cultural e intelectual que, em um ou mais momentos, permeia uma comunidade, um país e até todo o planeta. Fala sobre a época em que vivemos, o comportamento social, quais valores procuramos, quais habilidades tentamos desenvolver. Caracteriza-se de diversas formas: os livros mais vendidos, as bilheterias de cinema, as músicas mais ouvidas, os produtos que estão nas prateleiras, a moda que está nas vitrines e nas ruas, todo o significativo para uma comunidade, cujos sinais estão em toda parte.

Vivemos um tempo intenso, para o bem e para o mal, há mais consciência social e ambiental, as epidemias estão em relativo controle, o respeito às diferenças e escolhas de gênero começa a penetrar em algumas mentes ainda que com dificuldade; e também assistimos a demonstrações absurdas e brutais de preconceito racial, de gênero, social, o aquecimento global começa a cobrar seu preço, na Europa, no Oriente Médio, em muitos lugares, as guerras são escaladas e parece não haver como controlá-las. O espírito deste tempo empolga e apavora, é preciso saber como as jovens veem o mundo atual.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.