Começo de novela é sempre assim: não se sabe o nome dos personagens e muito menos a índole que carregam. Em “Paraíso Tropical”, o público deve ter atenção em dobro: duas garotas absolutamente iguais têm personalidades diametralmente opostas. É o drama das gêmeas Paula e Taís, que crescem distantes – a primeira em Salvador e a segunda no Rio de Janeiro – que norteia a trama de Gilberto Braga.

Uma não sabe da existência da outra, como é de se esperar em autêntico folhetim. Autêntico, na verdade, não é uma palavra que se encaixa bem na proposta do autor. Afinal, a história das gêmeas de gênios opostos povoa a TV desde a primeira montagem de Mulheres de Areia, em 1973.

Vivido primeiro por Eva Wilma e relembrado em 1993 por Glória Pires no remake de Mulheres de Areia, o duplo papel agora é de Alessandra Negrini. Braga assume a pouca originalidade do tema, mas despreza crítica. “Gosto muito de trabalhar com os clichês. E, dentro do meu universo, gêmeas é algo que nunca coloquei em cena”, comenta. Na verdade, Paula e Taís ficariam a cargo de Cláudia Abreu, uma das queridinhas do novelista, que teve de recusar as personagens por conta de uma gravidez.

O contraste no comportamento das gêmeas foi acentuado pelo trabalho de caracterização do maquiador e fotógrafo Fernando Torquato. “Paula é uma pessoa que se preocupa com os outros e não tem o egoísmo de Taís, o que pede tons leves e cabelos naturais. Taís, sempre atenta a tudo o que acontece, usa a maquiagem como artifício para enaltecer sua sensualidade e como recurso para alcançar seus objetivos. Criar uma diferença entre elas, mesmo que subliminar, foi necessário também para que a própria Alessandra se olhe e consiga se ver ora como Paula, ora como Taís”, diz o profissional.

Identificar a gêmea pelo tipo de roupa usada pode ser boa dica. A moça que aparece aos beijos com o galã Daniel (Fábio Assunção) reúne traços estéticos característicos da boazinha da história: cabelos partidos ao meio, regatinha básica, quase sempre de algodão, maquiagem zero, acessórios discretos. Se uma é a boazinha, a outra é a boazuda. “Ao contrário de Paula, Taís é uma mulher que se endividaria para ter acesso às melhores roupas A maneira como você se veste é a maneiro como se apresenta”, diz a figurinista Helena Gastal.

PAR ROMÂNTICO

O look simples e perfeitinho de Paula casa completamente com o irretocável Daniel (Fábio Assunção). Não é à toa que os dois se apaixonam logo hoje, no primeiro capítulo da novela, quando a garota salva a vida dele em pleno mar. O ator, aliás, também passou por alguns retoques para encarnar o mocinho. Cortou bebidas gasosas do cardápio, caprichou na musculação e aparece no vídeo com aquele corpão típico de um atleta do windsurfe, esporte preferido de seu personagem.

“O Gilberto Braga e o Dennis Carvalho (o diretor) sugeriram que eu voltasse a ter aquele visual da minissérie Labirinto (1998). Dei uma secada”, conta Assunção. Para as roupas dele, a figurinista escolheu um visual clean. “Daniel possui em seu armário ternos luminosos e gravatas mais leves, com tons suaves” diz Helena.