SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Levar embalagens e outros materiais residuais de volta para o ciclo produtivo em forma de matéria-prima é a chave da economia circular. E um dos maiores desafios para estabelecer essa prática é a estruturação do mercado e a profissionalização da cadeia de reciclagem. 

Criado em 2012, o Novo Ciclo, programa da Danone em parceria com a Fundação Avina e o MNCR (Movimento Nacional dos Catadores), encontrou esse caminho no sul de Minas, nos arredores da fábrica da empresa, em Poços de Caldas. Com sua atuação, conseguiu apoiar o desenvolvimento de cooperativas e conectou-as com administrações locais e indústrias recicladoras. 

Para isso, o programa, dividido em quatro fases, organizou em quatro redes as 76 cooperativas de 67 cidades da região. Os recicláveis mais comuns coletados por elas, como garrafas PET, itens de PS (poliestireno) e papelão, estão chegando à própria Danone e também às fábricas que são suas fornecedoras e que os transformam em produtos plásticos variados, como vassouras e bacias, por exemplo.

A resultado mais vísivel do programa dentro da Danone é a incorporação de 25% de material reciclado na produção de uma linha de garrafas de água da marca Bonafonte. A intenção, segundo a empresa, é aumentar esse percentual. Papelão reciclado também vem sendo usado nas embalagens dos produtos para o atacado.

Em setembro, o Novo Ciclo foi apresentado entre os 19 casos de sucesso do encontro da Rede Brasil do Pacto Global, ligada à ONU (Organização das Nações Unidas), que reúne mais de 750 empresas brasileiras.  

A rede realizou uma chamada pública para projetos ligados ao atingimento dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) e de suas metas, considerando temas como comunicação e sustentabilidade, educação, florestas, clima e agronegócio, água e saneamento, empresas e direitos humanos, o futuro das cidades e oceanos. 

O Novo Ciclo contempla vários ODS, com mais destaque para o 17, que é o de fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável. 

No seu início, há 6 anos, o projeto abrangia 23 cidades do Sul de Minas. Até o final de 2015, já tinha atingido 60 cidades, 70 cooperativas e mais de 800 catadores. Atualmente, são 76 cooperativas e 1.400 cooperativados. A renda média dos trabalhadores partiu de R$ 490 em 2012, para R$ 1.200,00 em 2018. De 2012 a 2017, foram recuperadas 95 mil toneladas de materiais. Só em 2018, de janeiro a agosto, foram mais 22 mil toneladas. 

Segundo Ligia Camargo, líder de sustentabilidade da empresa, um dos motivos do êxito do programa foi a atuação da empresa no incentivo das relações comerciais entre seus fornecedores e as cooperativas. As cooperativas precisam de fluxo de caixa diário e por isso ficam à mercê de empresas intermediárias entre elas e as recicladoras que compram material a preços baixos. “Com a recomendação da Danone de compra de materiais aos seus fornecedores, é garantido um volume de demanda que pode sustentar os preços mais justos e consequentemente o incremento de renda dos catadores”, diz.

A organização das cooperativas em redes regionais também proporcionou melhores resultados e baixou custos de transportes e fretes, melhorando também o desempenho financeiro do mercado. Cooperativas mais estruturadas hoje assumiram a coleta seletiva como prestadoras de serviço para as prefeituras. 

A fase atual do programa prevê treinamentos para melhorias em processos internos de finanças, produção e comercialização, mobilização social, resolução de problemas e gerenciamento das redes, de forma a incentivar a autonomia e o desenvolvimento profissional dos catadores.