SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A rua dos Pinheiros, muito conhecida pela concentração de bares, restaurantes e cafés na zona oeste de São Paulo, virou um laboratório de testes da convivência entre pedestres e motoristas.

A partir desta segunda-feira (5), um trecho do asfalto entre as ruas Cônego Eugênio Leite e Joaquim Antunes vai abrigar minilounges, com bancos de madeira, pufes, floreiras e paraciclos em ambos os lados.

A intervenção vai simular por 35 dias a viabilidade de a calçada avançar para o asfalto aumentando assim a área de circulação e descanso para pedestres no espaço urbano.

Para isso, o trecho perdeu 18 vagas de estacionamento rotativo da zona azul. Já a calçada temporária ganhou 790 metros quadrados de área. No entanto, foram preservadas as vagas para idosos e deficientes.

Ao longo do programa, a velocidade máxima permitida para os carros que circulam na região também vai cair dos atuais 50 km/h para 40 km/h.

A novidade que grita aos olhos está nos cruzamentos. Com as calçadas ampliadas até mesmo sobre as faixas de pedestre, quem circula a pé precisará de menos tempo para fazer a travessia de um lado a outro da rua.

A aposentada Itacy Amaral, 72, moradora da rua Fradique Coutinho, também em Pinheiros, estava de passeio pelo bairro e aprovou a ideia. “O meu passo é mais lento. Com menos asfalto e mais calçada não corro tanto risco e ganho mais tempo na travessia”, disse.

Quem também achou a intervenção oportuna é o entregador de água Rodolfo de Souza, 21. Acostumado a transportar muitos galões do líquido em uma bike, Rodolfo usou a calçada ampliada no cruzamento da rua dos Pinheiros com a Cônego Eugênio Leite para descansar. “Vai facilitar e muito o meu trabalho”, afirmou.

O projeto está sob o guarda-chuva do Coletivo Pinheiros e conta com a chancela do vereador Police Neto (PSD) e mais o apoio da subprefeitura de Pinheiros, CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e a Iniciativa Bloomberg para a Segurança Global no Trânsito.

A iniciativa funciona mais como uma provocação, segundo Vanessa Rêgo, a presidente do Coletivo Pinheiros. “Nessa cidade onde o carro sempre ganha, estamos propondo uma nova experiência de uso da rua provocando o poder público e a iniciativa privada a agirem por essa causa”.

Para sair do papel, o projeto contou com o apoio de comerciantes, que aceitaram abrir mão das vagas de estacionamento antes usadas por seus clientes durante a vigência do projeto.

Dono de uma doceria, Lucas Forte, 35, diz que a presença de gente circulando na região aumentou muito após a chegada do metrô que, por sua vez, atraiu muitos escritórios na região. “Mas não vimos novos espaços para os pedestres. Esse teste vai escancarar qual é a prioridade da cidade”, disse.

Vizinho da doceria, o chaveiro Marcos Rogério Campos, 55, não está muito contente com a novidade porque, segundo ele, vai impactar diretamente nos ganhos de seu negócio. “O meu cliente vem de carro, estaciona na zona azul e vai embora rápido. Tenho um fluxo bom de gente assim. Agora nesses 35 dias vou perder isso”, reclamou.

Os minilounges serão espaços de convivência e não uma extensão de bares, cafés e restaurantes da rua Pinheiros. Os comerciantes não poderão vender seus produtos às pessoas que estiverem nos locais.

Batizado de “Caminhar Pinheiros”, o projeto vai monitorar os impactos da intervenção no trânsito e na rotina dos pedestres. Um abaixo-assinado online será disponibilizado para a população local aprovar ou não a extensão da iniciativa por toda a rua dos Pinheiros.