SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A União Europeia (UE) revelou nesta quarta-feira (19) seu plano para a saída do Reino Unido do bloco caso os dois lados não consigam chegar a um acordo, enquanto entidades empresariais do país afirmaram que “observam horrorizadas” a possibilidade deste cenário se concretizar.
A cem dias do “brexit”, marcado para 29 de março de 2019, a primeira-ministra britânica, Theresa May, parece distante da maioria necessária para aprovar os termos do acordo no Parlamento. Agora Londres e Bruxelas aceleram planejamento para a opção de saída sem acordo.
O plano de emergência da UE tem 14 medidas que atingiriam em especial as áreas de serviços financeiros, transporte aéreo e alfandegária. Elas poderiam durar de alguns meses a até dois anos, segundo a Comissão Europeia, e seriam implementadas unilateralmente pelo bloco após o prazo para a saída britânica.
As empresas aéreas britânicas, por exemplo, não poderão mais fazer rotas internas na UE, mas vão receber uma permissão temporária para realizarem voos que cheguem ou saiam em um país do bloco.
Bancos e o restante do setor financeiro do Reino Unido também poderão atuar apenas em algumas áreas por um período de tempo entre um e dois anos.
Os cidadãos britânicos não vão precisar de vistos para entrar no bloco, mas poderão ficar no máximo 90 dias seguidos. Para períodos maiores, será necessário pedir uma autorização.
O vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, disse que essas ações são apenas um exercício de redução de danos e uma tentativa de transformar uma saída abrupta em pouso suave.
A possibilidade de não haver um acordo fez as cinco principais entidades empresariais britânicas emitirem nesta quarta um comunicado conjunto no qual pedem ao governo que resolva a questão.
As entidades, entre elas Câmaras de Comércio Britânicas e a Confederação da Indústria Britânica, pediram aos parlamentares que, ao retornarem a seus distritos eleitorais durante o Natal, conversem com o empresariado local.
“Assim, esperamos que eles escutem e lembrem que o futuro da nossa economia estará em suas mãos”, diz o texto. Também nesta quarta, o governo britânico apresentou as novas regras da política migratória do país, que acaba com o tratamento especial para cidadãos europeus.
O sistema priorizará trabalhadores qualificados e tratará cidadãos de dentro e de fora da UE igualmente.
O temor de um aumento da migração para o país foi um dos fatores que impulsionaram o voto a favor da saída do país da UE durante o plebiscito de 2016.
A nova diretriz não determinou uma meta específica, mas aponta redução a níveis sustentáveis, como delineado no manifesto do Partido Conservador. No documento, de 2017, a proposta é diminuir a cifra anual para menos de 100 mil imigrantes.
Os trabalhadores qualificados que entrarão no Reino Unido mediante o novo sistema terão que ser encaminhados por uma empresa e serão sujeitos a um nível salarial mínimo que ainda será determinado. O secretário do Interior, Sajid Javid, defendeu um valor de 30 mil libras (R$ 116 mil) por ano, mas disse que ainda não há consenso.
Também haverá um esquema temporário de transição para contratações, que permitirá que cidadãos da UE e trabalhadores de outros países que sejam considerados de baixo risco entrem em solo britânico sem uma oferta de emprego por até 12 meses.
O debate desta quarta sobre o “brexit” no Parlamento britânico foi marcado por polêmica. Na sessão, May ironizava as ameaças do líder opositor trabalhista, Jeremy Corbyn, de convocar uma moção de desconfiança contra ela. Visivelmente irritado com os ataques, Corbyn teria chamado a chefe de estado de “mulher estúpida”.
Corbyn teve de prestar esclarecimentos diante do Parlamento e afirmou ter dito “pessoas estúpidas” em “referência àqueles que buscam transformar o debate sobre a crise nacional em uma pantomina”. Disse ainda ser contra o uso de linguagem sexista.
O incidente ocorre em meio a esforço do Parlamento para combater bullying e assédio. Neste ano, um grupo multipartidário reportou que 20% dos funcionários da Casa dos Comuns vivenciaram ou testemunharam assédio sexual no ano anterior.