Foi no primeiro trimestre de 2006 que tive notícias da realização da edição inaugural dos Seminários Internacionais Museu Vale do Rio Doce, em Vila Velha, ES.
  Quando me lembrei da inscrição em 2007 já não havia vagas disponíveis, o que lamentei profundamente sentindo que tinha perdido um dos mais importantes eventos de discussão dos fundamentos das artes visuais da atualidade.
  Agora, fui surpreendida com a remessa do livro “Sentidos e Arte Contemporânea”, organizado por Fernando Pessoa e Kátia Canton, que apresenta os resultados do seminário realizado entre 14 e 18 de março, demonstrando agilidade e competência raramente vistas num prazo de publicação tão exíguo.
  Parabéns à Fundação Vale do Rio Doce, nas pessoas da Diretora Superintendente Olinta Cardoso e Ronaldo Barbosa, Diretor do Museu Vale do Rio Doce, por mais esta realização.
  Aliás, o nome Vale do Rio Doce é meu velho conhecido, através de meu pai Gastão Augusto Knechtel considerado, ao lado do Dr. Renato Feio, como os dois maiores engenheiros ferroviários do Brasil na época áurea do transporte por trilhos. Isso, na década de 60, quando as locomotivas a diesel da GE (General Eletric) começaram a substituir as máquinas a vapor e previa-se que haveria um significativo incremento no setor, através da Rede Ferroviária Federal – criada com este objetivo. Infelizmente, num país continental, a indústria automobilística promovida por Juscelino Kubitschek matou a ferrovia, fazendo com que a precária malha rodoviária detenha até hoje, incongruentemente, a maior parte do transporte pesado brasileiro.
  Em compensação, a Companhia Vale do Rio Doce representa a exceção à regra em todos os sentidos. Não somente em relação ao funcionamento da única rede ferroviária comparável às do primeiro mundo em termos de transporte de carga, como na eficiência de uma empresa gerida com equipamentos e procedimentos “up to date”.
  Além disso, a existência do museu, instalado no prédio da antiga estação ferroviária Pedro Nolasco, e a preocupação com arte complementam a orientação empresarial de retorno público, ao mesmo tempo em que promovem uma visão qualitativa da companhia, exatamente como previa John Naisbitt, um dos autores de “Megatrends”, na década de 80.
  Faz alguns anos que venho acompanhando a programação do Museu Vale do Rio Doce, recebendo as publicações e constatando a excelência do trabalho ali executado, que não se limita ao espaço expositivo e, dia-a-dia, se aprofunda em questões mais sensíveis das artes visuais. Os seminários vieram se não como resposta a este aprofundamento, então como instrumento para análise da arte da atualidade.
  Nas palavras de Olinda Cardoso: “Esta edição dos Seminários Internacionais se apresenta como um desafio de investigação sobre os significados da expressão artística e sua reflexão filosófica, e sobre a importância dos artistas e dos trabalhos de criação, por meio de questões que envolvem o tempo, o espaço, o corpo e a política. Além de incrementar a agenda de exposições, o Museu Vale do Rio Doce exerce importante função social ao promover o embate de reflexões de renomados professores, filósofos, artistas, curadores e teóricos, todos em um esforço coletivo de fomentar o exercício da imaginação e da razão, em um ambiente em que a liberdade é o pano de fundo, e o compromisso é a garantia de uma dinâmica voltada para o bem comum.”
    Ronaldo Barbosa completa: “Ao abolir as fronteiras entre obra e coisa, a arte contemporânea abandonou o paradigma do belo para ganhar a questão da verdade e, desse modo, superando a dicotomia entre prática e teoria, encontrou a filosofia. Este evento surgiu do encontro da arte com filosofia.”
  Assim, foram convidados 17 palestrantes, sendo 14 brasileiros e três internacionais que também apresentam seus pontos de vista no livro, com temáticas divididas em segmentos: Política e arte contemporânea, com escritos de Jean Galard, Renato Janine Ribeiro, Peter Pál Pelbart e Mônica Nador; Tempo e arte contemporânea, com textos de Jeanne Marie Gagnebin, Bernardo Barros Coelho de Oliveira, Josely Carvalho e José Rufino; Espaço e arte contemporânea, abrangendo escritos de Sônia Salzstein, Nelson Brissac Peixoto e Fernando Cocchiarale e Corpo e arte contemporânea, com textos de Maria Filomena Molder, Paulo Herkenhoff, Suely Rolnik e Denise Bernuzzi de Sant’Anna. Isto, além dos textos introdutórios de Fernando Pessoa “O(s) Sentidos na arte contemporânea”, de Kátia Canton “Os sentidos na arte contemporânea e de Eliane Escoubas “Esboço de uma ontologia da imagem e de uma estética das artes contemporâneas”.