A curiosidade sempre nos acompanha. Desde os assuntos mais corriqueiros sobre os quais queremos saber maiores detalhes, até acontecimentos internacionais que nos fazem imaginar como seriam os demais aspectos políticos, sociais ou econômicos que existem e que não chegam a ser abordados nos meios de comunicação. E esta seleção muitas vezes se faz meramente pelo espaço disponível nos meios de comunicação, sejam eles falados, televisionados ou escritos. Nestes, há um número determinado de toques – onde são contados não somente as letras como os espaços entre as palavras – o que nos traz a obrigatoriedade de síntese do assunto ou notícia.
Por outro lado, numa análise comparativa proveniente da história podemos dizer que muitas das instituições de governo, do judiciário, do legislativo, ou mesmo de setores econômicos seguem padrões ou tradições que remetem basicamente à estrutura das cortes reais européias em seu modos de articulação. A maior diferença, a meu ver, é que o papel e a ação dos soberanos foram sendo gradualmente substituídos por eleições ou consensos mais democratizados. E, hoje em dia, o que mais conta para o encaminhamento de uma lei ou de uma norma necessária é realmente a aprovação pela maioria.
À medida que as cortes reais estão perdendo sua razão de ser – reduzidas no número de países; em seu papel de governo absoluto e pela própria conduta mais simples e acessível das majestades reinantes – diminui a curiosidade a respeito dos membros da realeza, hoje muito mais representados por incontáveis netos, bisnetos e sobrinhos-netos absolutamente desconhecidos do público.
Porém, somos curiosos e na ausência da verdadeira realeza procuramos um sucedâneo. Assim, uma questão que nos intriga e que raramente chega aos nossos olhos são como funcionam e se apresentam os bastidores das organizações mundiais – as sedes dos poderes que atualmente regem o mundo.
Agora, graças a uma exposição promovida pelo Goethe-Institut da Alemanha, poderemos saciar nossa curiosidade. Os curadores Thomas Huber e Jörg Koopmann convidaram, em 2007, dez fotógrafos de dez diferentes países da União Européia para fotografarem as três sedes do Parlamento Europeu, localizadas em Bruxelas, na Bélgica; Estrasburgo, na França e em Luxemburgo.
O Parlamento Europeu é o único organismo com voto direto na União Européia, promulgando leis diversificadas que influenciam e gerenciam as vidas de milhões de pessoas que moram nos países componentes da instituição.
Estes fotógrafos profissionais teriam duas semanas para registrar o que quisessem, tanto dentro quanto nas cercanias dos edifícios e o resultado deste trabalho viria a compor a exposição “Visões do Interior”. Deste modo, foram convidados os profissionais: JH Engström da Suécia; Pierre Faure, da França; Toby Glanville, da Inglaterra; Lukas Jasansky e Martin Polak, da República Tcheca; Aino Kannisto, da Finlândia; Martin Kollar, da República Eslovaca; Bettina Lockemann, da Alemanha; Erica Overmeer, da Holanda; Xavier Ribas, da Espanha e Krzysztof Zielinski, da Polônia.
A idéia do projeto, segundo os curadores, não seria a produção de fotografias representativas de acontecimentos políticos importantes, uma vez que este tipo de registro é amplamente coberto pelos meios de comunicação. Ao contrário, cada fotógrafo escolheria seu objeto de trabalho ou tema, variando de acordo com suas preferências pessoais e sua linguagem fotográfica específica.
Ao observarem o dia a dia nos corredores, nas salas plenárias, nas cozinhas, nos banheiros, nos escritórios, nas reuniões “en petit comité”, ao registrarem os mais simples servidores como os garçons, o ascensorista, os fotógrafos traduziram as vicissitudes, os gestos, enfim, a vida por detrás dos aspectos oficiais do Parlamento.
Continuando nas salas dos intérpretes que fazem a tradução simultânea – onde Pierre Faure clicou maravilhosamente as dificuldades e os apertos pelos quais os intérpretes passam para traduzir corretamente dentro de contextos diversos que cada língua possui.
A complexidade dos trabalhos realizados no Parlamento Europeu são atenuados por este registro feito individualmente pelos fotógrafos que nos permite um olhar “voyeur”, muito próximo aos gestos e cenários que regulam nossa vida.
A mostra “Visões do Interior – Explorações fotográficas no Parlamento Europeu”, abre amanhã, dia 05 de agosto no Goethe-Institut Curitiba ( R. Reinaldino S. de Quadros, 33 Informações: www.goethe.de/curitiba ) e vai até dia 12 de setembro.