Apesar de já ter em mãos o DVD do “62° Salão Paranaense”, estive esperando a impressão do catálogo para comentar sobre o mais importante evento de artes visuais de Curitiba. É evidente que a abrangência do salão ultrapassa as fronteiras brasileiras e vai até aos países do Mercosur, como é conhecido em espanhol. Mas, para nós – pessoas da área e público interessado – que há muitos anos estamos acompanhando suas edições, além da denominação, permanece o carinho para com este evento tão paranaense.
Então, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná, mais uma vez, hospedou as obras dos artistas selecionados, tanto os escolhidos pelos curadores, quanto os que enviaram proposta de obra, através da participação espontânea. Num total de 27 artistas, tratados de modo absolutamente paritário, sem distinção de quem entrou em qual categoria, o que vem a demonstrar o respeito da instituição pelos participantes, o 62° Salão apresentou, apesar de um certo vazio em todas as salas, um nível estético-artístico que há algum tempo não alcançava.
A escolha dos curadores tem muito a ver com este resultado feliz. Artur Freitas, Daniela Vicentini, Isaac Antonio Camargo, José Francisco Alves e Simone Landal foram os responsáveis diretos na tarefa árdua que Isaac definiu – em seu texto do catálogo – como uma seleção das proposições, uma vez que esta escolha exige dos curadores uma pré-avaliação do que geralmente vem como projeto e não como uma “real” visualização da obra.
Daniela explica parte do processo da escolha: “Entre os convidados, (1) pensamos em artistas cujos trabalhos pudessem ocorrer num sentido institucional amplo, além dos limites do museu; (2) apostamos em artistas mais estabelecidos, no sentido de que haveria um comprometimento por parte dele ou dela em realizar sua obra dentro do contexto de um salão; (3) pensamos em artistas cuja obra tivesse, em nosso entender, importância para a formação do meio artístico local; (4) e por fim, artistas com produção relevante mas que não participam do circuito de galerias e de grandes coletivas.”
Falando acima em real, já que os curadores se limitaram nos textos muito mais à apresentação de suas abordagens pessoais perante a problemática do salão, tratando de montagem, composição dos espaços, analogia ou não de obras, etc… o texto “O estorno do real” de Artur Freitas salvou o catálogo.
Baseando-se nos escritos de Hal Foster, (“The return of the real: the avant-garde at the end of the century”. 1996. The MIT Press.), Artur faz uma notável reflexão que se inicia no “real”, passa pelo aspecto “cultural” da arte, chama Foster de uma espécie de “etnógrafo” da vida cultural e finaliza na última Bienal Internacional de São Paulo, realizada em 2006, com curadoria de Lisette Lagnado. Nas palavras dele: “a Bienal toda ela aberta àquela ‘arte quase-antropológica’ de que falava Foster”.
Participam do salão: Alejandra Andrade (La Paz, Bolívia); Alfonso Tostes (Belo Horizonte/MG); Camile Kachani (Beirute, Líbano); Carina Weidle (Novo Hamburgo/RS); Daniel Escobar (Santo Angelo/RS); Dirceu Maués (Belém/PA); Dudi Maia Rosa (São Paulo/SP); Fábio Noronha (Curitiba); Fernando Burjato (Ponta Grossa/PR); Jorge Francisco Soto (Montevidéu, Uruguai); Juliana Stein (Passo Fundo/RS); Lucia Koch (Porto Alegre/RS); Luciano Zanette (Esteio/RS); Maria Nepomuceno (Rio de Janeiro/RJ); Mariano Molina (Buenos Aires, Argentina); Mário Rönhelt (Pelotas/RS); Martín Sastre (Montevidéu); Nelson Felix (Rio de Janeiro/RJ); Patricio Farias (Arica, Chile); Paula Almozara (Campinas/SP); Paulo Climachauska (São Paulo/SP); Rafael Carneiro (São Paulo/SP); Rivane Neuenschwander (Belo Horizonte/MG); Rodrigo Braga (Manaus/AM); Rubens Mano (São Paulo/SP); Rulfo (Montevidéu) e Tony Camargo (União da Vitória/PR).
Simone Landal finaliza: “… uma das poucas iniciativas de fomento ao debate sobre arte contemporânea, ainda mantida pelas instituições locais, compete a este salão, além de propiciar discussões em torno da exposição em si, aproveitar as experiências e pensar a respeito dos conceitos e formatos para uma possível continuidade para o evento. Como um salão. Devorar um salão.” Aberto até 30 de março no MAC-PR – Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Rua Des. Westphalen, 16 fone 41-3222-5172).