Foto: Divulgação – Vinícius de Oliveira e Fernanda Montenegro em cena de Central do Brasil.

Lançado nos cinemas brasileiros em 3 de abril de 1998, “Central do Brasil”, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Montenegro e Vinícius de Oliveira, foi peça importante na retomada do cinema nacional, e principalmente, no orgulho de coletividade do país.

A obra, premiada com o Urso de Ouro de Melhor Filme em Berlim e indicada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, conta a história de Dora (Fernanda), professora aposentada que passa seus dias escrevendo cartas para as milhares de pessoas analfabetas que transitam pela Central do Brasil. Ao lado de sua vizinha, Irene (vivida por Marília Pêra), Dora decide quais cartas devem ganhar uma sobrevida, e quais delas jamais serão enviadas. É durante o exercício dessa função que a professora conhece Josué (Vinícius), menino que acabou de perder a mãe e sonha em encontrar o pai. 

Ao se ver envolvida com a história de Josué, Dora acaba embarcando na determinação do menino e segue com ele para o Nordeste, com o objetivo de localizar o pai do garoto. Durante essa trajetória, Dora e Josué vão descobrir novas possibilidades de vida e também iniciam, cada um à sua maneira, uma redefinição da própria história: Dora redescobre a própria humanidade, perdida há muito tempo, e Josué amadurece, através do processo de busca da sua identidade.

Walter Salles criou a história de “Central do Brasil”, após realizar o documentário “Socorro Nobre”, que mostrava a troca de cartas entre a presidiária Socorro e o pintor autoexilado Frans Krajcberg, e de como essa interação entre eles possibilitou que ambos redescobrissem a vontade de viver. De posse dessa história, Walter pensou em como seria se pessoas não conseguissem enviar as cartas que remetiam. Assim surgiu o mote que originou o desenvolvimento de Central, que virou um roteiro pelas mãos de João Emanuel Carneiro (autor de Avenida Brasil) e Marcos Bernstein (autor de Orgulho e Paixão, atual novela das 18 hs).

Além de revelar o talento de Vinicius que, até conhecer Walter Salles, trabalhava como engraxate em um aeroporto do Rio e jamais tinha pisado em um cinema na vida (o garoto derrotou cerca de 1.500 atores nos testes para Josué), Central trilhou uma carreira de sucesso: premiações no Festival de Berlim, indicações ao Oscar (além de filme estrangeiro, Central realizou a façanha de colocar Fernanda como a primeira e única brasileira indicada ao prêmio de melhor atriz). Um clássico instantâneo, que fez os olhares se voltarem para a produção do cinema nacional. Após a extinção da Embrafilme (realizada pelo governo de Fernando Collor), o cinema brasileiro entrou em uma fase crítica, o que praticamente culminou com o fim das produções audiovisuais (pouquíssimos filmes conseguiam se destacar nas programações de cinema na primeira metade da década de 90).

Após a retomada, que iniciou-se com Carlota Joaquina, de Carla Camuratti, e ganhou fôlego com as indicações de O Quatrilho e O Que É Isso, Companheiro?, para o Oscar, Central do Brasil veio consolidar de vez a produção nacional. E, apesar de retratar, com muita propriedade, como era o Brasil daquela época, o filme não se tornou nem um pouco datado. A humanidade contida na produção, além de toda a sua qualidade técnica, é elemento essencial para que consigamos compreender as mazelas e necessidades da nossa nação. Um trabalho que não deve ser esquecido jamais, e que se mostra necessário nesses tempos tão difíceis em que vivemos atualmente.