Arquivo Bem Paraná/Franklin de Freitas – Alexsandro de Souza

Alex não precisa ser apresentado. Como jogador, brilhou no Coritiba, no Palmeiras, no Cruzeiro, no Flamengo, no Fenerbahce e na seleção brasileira. Como técnico, tem um início de carreira promissor, com bom desempenho e clareza de ideias. Na vida pessoal, impressiona pela admiração que cativou em amigos e parentes.

Para mostrar um pouco sobre o ‘Alex jogador’, o ‘Alex do futsal’, o ‘Alex treinador’, o ‘Alex amigo’ e ‘o Alex pai de família’, o Bem Paraná convidou amigos, parentes e ex-jogadores para fazer essa entrevista. As perguntas foram elaboradas por eles, que conhecem esse curitibano de 44 anos melhor do que qualquer jornalista da nossa equipe.

Os entrevistadores:
– Ademir Alcântara, 59 anos, ex-meio-campista, jogou com Alex no Coritiba em 1995 e 96

Adriano Rattmann, 47 anos, jornalista, produtor do filme Alex Câmera 10

– Alexandre Taxinha, 40 anos, irmão de Alex, funcionário público, jogou nas categorias de base do Coritiba

Castorzinho, 42 anos, ex-meio-campista, jogou com Alex desde os 7 anos de idade

Lycio Vellozo Ribas, 49 anos, jornalista, autor do livro O Mundo das Copas

Jetson, 49 anos, ex-atacante, jogou com Alex no Coritiba em 1995 e 96

Macaris do Livramento, 61 anos, ex-boxeador e fundador do time de masters Amigos do Macaris

– Marcelinho, 43 anos, ex-meio-campista de Athletico e Paraná, jogou com Alex no futsal

Polaco, 50 anos, ex-meia-atacante, jogou com Alex no Coritiba em 1995

Serginho ‘Cabeção’ Prestes, 56 anos, comentarista da Banda B, ex-meio-campista de Athletico, Coritiba e Paraná

David Pizzato, 43 anos, ex-goleiro do Coritiba, jogou com Alex no futsal

Silvio Rauth Filho, 47 anos, jornalista, editor de Esportes do Bem Paraná

Tcheco, 45 anos, ex-meio-campista e hoje técnico do FC Cascavel, jogou futsal com Alex

Ademir Alcântara — Eu e o Alex ficávamos sempre no mesmo quarto. Apagava luz para dormir às 11 horas. Na véspera do Atletiba de 95, que ganhamos por 3 a 0 no Couto e subimos pra primeira divisão, fiquei muito tempo pensando no jogo e não conseguia dormir. E o Alex, do outro lado, já estava roncando às 11h30. Eu com 33 anos de idade estava muito preocupado com o jogo. E ele, com 18 anos, com aquela tranquilidade toda. Será que algum jogo tirou o sono do Alex?
Alex — Sempre ouvi isso do Ademir e consigo explicar facilmente. Ali, Ademir tinha a noção exata de tudo que passaria após aquela partida. Eu tinha 18 anos e não tinha ideia de como seria o pós. Ser ignorante de conhecimentos te traz essa paz e sua cabeça gira menos. Ademir sabia tudo que passaria se vencêssemos, se perdêssemos. Isso faz a cabeça ficar a mil. Para mim, não. Era uma jogo enorme. Até aquele momento, era o maior da minha carreira, mas pela minha idade e desconhecimento de fatos, me parecia uma partida qualquer. Mas ao longo da carreira tive noites como Ademir teve aquela vez em 95.

Jetson — Qual foi a importância do futsal na sua brilhante carreira profissional?
Alex — 100%! Só chego no campo, através do futebol de salão. Foi muito além de apenas futebol. Foi quem me educou para a vida esportiva. Seja ela dentro ou fora. As pessoas que peguei no caminho na AABB foram fundamentais para que eu não caísse nas armadilhas diárias que o futebol nos oferece. E quem me viu jogando sabe: fui um salonista, não grama. Em praticamente 75% dos meus movimentos.

Tcheco — Qual idade que você entende que seria ideal para fazer a transição do futsal para o campo?
Alex — Depende muito do local onde mora o menino e a oportunidade que ele terá de estar na quadra e também no campo. Imaginando o melhor cenário, eu começaria na quadra e seguiria apenas nela até 12 anos. Dos 12 aos 14 intercalaria quadra e campo. E a partir do sub-15 o menino se obriga a escolher entre a quadra e o campo.

Jetson — Você subiu muito novo para o profissional. Você acha que existe uma idade ideal para esta transição?
Alex — Não existe idade, mas existem ideias. Como está aquele menino física e tecnicamente? Como ele reage ao que é oferecido? Eu tive muita sorte! Eu fui treinado no infantil e juvenil por ícones do Coritiba. Eu tive a sorte de ser treinado por Sisico, Cláudio Marques, Kruger e Zé Roberto. Esses caras gastaram energia comigo! Era muita conversa individual sobre tudo. Tínhamos um senhor chamado Lauro Fialho, ex-ponta-esquerda do clube. Isso se juntou ao que trouxe da quadra. E encontrei no time principal jogadores que foram muito feras comigo e cuidaram de mim. Encontrei jogadores que gostavam do clube e tratavam bem os meninos. Não acredito em idade e não acredito em histórias gerais. Temos que proteger o indivíduo. E ajudá-lo a crescer.

Serginho Cabeção — Como foi a experiência de ter o Zico como teu treinador? Tem algo que você possa destacar que extraiu dele para passar aos teus pupilos de hoje, que por certo também te têm como ídolo?
Alex — Minha experiência com Zico foi demais. O homem era meu ídolo e referência de uma geração toda. De repente eu estava ali trocando ideias sobre posicionamento em campo e outras situações. Experiência riquíssima! Na qual levei alguns meses para entender que ali estava um treinador e não o meu ídolo. O que mais trago do meu período com ele é a preocupação com a parte técnica e com o ser humano. Zico foi o maior gestor de pessoas que conheci no futebol.

Tcheco — Qual atacante você mais gostou de jogar? E qual marcador você não gostava de enfrentar?
Alex — Joguei com os maiores da minha geração em alguns momentos. Seja na seleção ou no clube. Mas o que mais me encantou foi Aristizabal. Joguei apenas um ano, mas parecia que jogávamos juntos desde sempre. Mas vale ressaltar que joguei com feras de várias características. Peguei no Coritiba o Pacheco que era craque de bola, com Brandão e Magrão que tinham muito gol. Joguei com velocistas, com Euller, Basilio e Jussiê, com 9 de força com Pena, Oseas e Fábio Júnior, com atacantes de movimento com Paulo Nunes, Marcelo Ramos, Lucas, Deivid, Edmundo, Asprilla. Ainda joguei com gênios da posição, Evair, Romário e Ronaldo… Citei alguns, mas com o Ari o entrosamento foi absurdo.

Polaco — Alex, acompanhando toda sua trajetória e história vemos o quanto foi importante a figura da sua esposa Dai nos muitos desafios da sua carreira. E de o quanto você dá atenção e valoriza o desenvolvimento dos seus filhos, a família. Hoje como treinador das categorias de base de um grande clube, estando bem próximo de muitos garotos e suas realidades, como você vê a importância de um trabalho específico voltado para o desenvolvimento da gestão emocional desses garotos?
Alex — Importantíssimo! Só fiz sucesso na bola, porque a Dai foi ativa no papel dela, primeiro como namorada, depois esposa e depois mãe. Foi minha melhor parceira na bola. Sem ela não faria 10% do que fiz. Em relação a hoje, minha maior preocupação é o ser humano. Um ser humano respeitado e sabendo reconhecer seus processos tem mais chance de sucesso. E também terá uma força maior para lutar e se levantar em momentos de frustração.

Castorzinho — Em 86, o professor Miro me apelidou de ‘Meio Kilo’ e o Alex de ‘Biscuí’, porque nós eramos muito pequenos, tínhamos 7 para 8 anos. E o Alex também era o ‘Pachequinho’. Você lembra desses apelidos da época?
Alex – Lembro de tudo! Campo do Fortaleza lá no Capão da Imbuia. Mais de 300 meninos com menos de 14 anos. Era duro para o professor Miro lembrar nomes. Eu tinha 9, o Meio Kilo (Castorzinho) tinha 7. Fui de meia esquerda e Castor de ponta esquerda. Todos mais velhos que nós. Acabado nosso tempo ali o professor Miro nos chamou e disse: ‘já volto aqui!’. Quando retornou disse que não tínhamos idade para competir ainda com o Coritiba. Mas ele nos levaria até a AABB. Chegando lá o professor Miro nos apresenta. “Esse aqui é o último da família Castor, esse aqui é o último da família Pacheco”. Saí de casa como Alex, virei Biscuí no treino e voltei Pachequinho. Não tinha ideia do que era aquele nome. Aos poucos fui entendendo quem eram. Eles todos me aceitaram muito bem como último da família Pacheco. Joguei com todos eles na quadra e ainda peguei no Coritiba o craque da família, o Erielton. Ao encontrar o Eri, já na equipe principal do Coxa, 8 anos após ganhar o apelido. Morre o último dos Pacheco e nasce Alex.

Macaris — O que o grupo Amigos do Macaris representa para você? Como é essa convivência com esse grupo de ex-jogadores?
Alex — Acho espetacular! Não é todo momento que você tem a chance de dividir espaços com campeões. Ser campeão é muito difícil. Quem consegue é porque lutou demais para chegar ali. Rosilete e Macaris são monstros do boxe. Ali temos ex-jogadores com muita história para dividir. É bom demais!

Alexandre Taxinha — Alex, você lembra quando teve que cuidar de mim e, na Victor Ferreira do Amaral, tive que pular por cima de um táxi para não ser atropelado? E quando apertou meu dedo em uma porta automática e por Deus não amputou meu dedo? E quando ele estava me puxando pela mão olhando o Interbairros 2, já na saída da AABB, e bateu a cabeça no poste? E quando me enganou que eu poderia voar, dizendo que eu era o super-homem e me fez pular de cima da casa da minha avó?
Alex — Tenho várias histórias com meu irmão. É uma outra época. Sou quatro anos mais velho. Imagine você, um menino de 9 anos que andava com um menino de 5 anos por toda a cidade de ônibus. Hoje em dia é quase impossível imaginar isso.

Marcelinho — Alex, você lembra ter ganho alguma partida de mim naquele tempo que nós nos enfrentávamos em Atletibas ou no futsal?
Alex — Essa dei muita risada! Quem vê o Athletico hoje não tem ideia do que era o clube no fim da década de 80 e início de 90. Marcelinho sem dúvida era um dos grandes potenciais que jogavam na quadra e nos campos de Curitiba. E sempre brinco com ele que ele nunca ganhou de mim. Sinceramente não lembro de perder para o Athletico na base. Nem na quadra com a AABB e nem no campo com o Coritiba.

David Pizzato — Alex, qual foi a história mais engraçada de goleiro que você já soube?
Alex — Joguei com vários goleiros e cada um tem histórias legais que vivi. A do ceguinho com o próprio David eu já contei algumas vezes. Tínhamos na AABB um menino chamado Marcelo, que mais tarde ficou reconhecido no país uma pessoa que participou de vários golpes, inclusive virou filme. Aquela figura que fingiu ser filho do dono da Gol, era um dos nossos goleiros na AABB no fim da década de 80. (Clique aqui para conhecer Marcelo Nascimento da Rocha)

Adriano Rattmann — Você recebeu em vida bonitas homenagens com uma estátua, um livro e o filme Alex Câmera 10. Qual o sentimento que tem para cada uma dessas homenagens, visto que todas partiram da iniciativa de fãs?
Alex — Que não as mereço! Essa é uma sensação que sempre tive. Mas ao mesmo tempo, se me ofereceram, só agradeço e deixo seguir o fluxo. Cuidar de mim e daquilo que faço, sempre teve um cuidado especial de minha parte. Sempre, desde as quadras eu queria ser respeitado. Sempre busquei respeito. É minha maior alegria hoje é ter acesso livre em vários locais, por ter respeitado e ser respeitado.

Macaris — Alex, você já jogou com algum centroavante tão matador como Macaris do Livramento?
Alex — Nunca joguei com o Macaris. Ele foi apenas meu treinador. Mas não faltarão oportunidades.

Serginho Cabeção — O ‘piazinho Alex’ agradaria o ‘Professor Alex’ hoje?
Alex — Pela técnica, com certeza, sim. Pelo comportamento, também. Eu era um menino tímido, mas que ouvia muito e estava aberto a aprender.

Marcelinho — Alex, qual foi seu melhor treinador? E o pior?
Alex — Meu melhor treinador foi Vanderlei Luxemburgo. O pior foi um turco chamado Aykut Kocaman.

Lycio Vellozo Ribas — Como você faz o treino de cobrança de falta no São Paulo Sub-20, considerando que os especialistas em cobranças de falta estão sumindo no futebol brasileiro?
Alex — Quando vou montar minha semana de treinos, esse treino de bola parada direta eu já coloco na minha programação. Óbvio que muito mais que eu como treinador exigir as cobranças no treino, converso muito com os meninos que eles precisam querer estar ali desenvolvendo isso.

Silvio Rauth Filho — O Barcelona usou o seu time B para formar o técnico Guardiola. No Brasil, alguns clubes já revelaram bons treinadores em elencos de aspirantes ou nas categorias de base. Usar a base para formar bons treinadores pode ser o caminho para competir com a ‘invasão de técnicos estrangeiros’ no Brasil?
Alex — A pergunta é boa, mas a resposta não é simples. A grande questão para mim é: O que aquele dirigente do clube busca em termos de perfil para contrataram o treinador A ou B? Para mim, pouco importa a nacionalidade dele. Se é brasileiro, sul-americano ou europeu. Saber o que o clube deseja em termos de trabalho define muito o próprio trabalho do treinador. Jamais comparo Europa com Brasil por um detalhe simples: A CULTURA! Futebol está enraizado na cultura local, do municipio, do estado e, muitas vezes, dentro do próprio clube. Tem jogadores e treinadores maravilhosos que não se encaixam em determinados clubes. Respeitar isso é um papel da diretoria quando contrata um profissional. Trabalhar em equipes menores e/ou na base ajuda a fortalecer nossas ideias como treinadores. Mas no momento que chegar em clube X, qualquer um precisa entender o contexto daquele clube. Cada trabalho tem que ser especial. Não adianta querer trazer um trabalho anterior para esse, não funciona. A complexidade local precisa ser reconhecida sempre.