
Em tempos de fotos digitais e celulares com câmeras, os fotógrafos de rua, outrora figuras comuns na paisagem do Centro de Curitiba, praticamente entraram em extinção. No Passeio Público, por exemplo, ficavam vários desses profissionais, cujas lojas (popularmente chamadas de ‘lambe-lambe’) hoje deram espaço a quiosques de sorvete. Sinais dos tempos, certamente. Mas ainda assim, há um resistente no coração da Capital. Trata-se da Foto Rápido, uma banca localizada na Praça Carlos há 44 anos, mostrando que o tempo e a tecnologia não foram capazes de apagar o retrato 3×4 dos curitibanos. Pelo contrário: há procura (e muita) todos os dias.
Atualmente, quem toca a banca de fotografia numa das mais conhecidas praças curitibanas é Rogério Bueno, de 43 anos. Ele herdou em 2006 o ponto de seu sogro, Pedro Paulo, que foi o fundador da Foto Rápido (nome oficial do estabelecimento), no longínquo ano de 1978. Hoje com 82 anos, de vez em quando o fundador faz uma visita ao genro para conferir como anda o seu legado. E no que depender de Rogério, é um legado que não chegará ao fim tão cedo. “Eu pretendo me aposentar aqui. Também tenho duas filhas, elas têm nove anos de idade. Por enquanto, só vêm aqui para passear. Mas vou tentar preparar elas para que assumam o ponto, continuem o legado”, comenta ele.
Por dia, relata ainda Rogério, entre 30 e 40 retratos são feitos, sendo que a principal demanda são as fotografias 3×4, muito usadas em documentos e vendidas a R$ 20 o pacote com oito cópias. O atendimento ao público é feito de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas. “Tem muito serviço até 15 horas. Antigamente, segunda-feira era o dia que mais lotava, o dia inteiro tinha gente vindo aqui. Parece até que todo mundo fazia foto para documento na segunda-feira (risos)”, conta o fotógrafo, explicando que hoje já não tem um dia que seja mais movimentado. “Não tem mais horário ou dia que fique mais lotado, mas até 15 horas sempre dá um movimento, em alguns momentos chega a formar alguma fila aqui.”
Antigamente, as fotos eram feitas por Rogério e seu sogro com câmeras Polaroid, com as quais se fazia a foto e elas eram automaticamente impressas em seguida. Hoje, as fotos já são todas digitais, o que garante mais qualidade às imagens e ainda reduz o desperdício de fotos. “Com a Polaroid, você fazia a foto, mas se a pessoa piscasse, tinha que voltar, fazer uma nova foto. Agora, com as câmeras digitais, a gente faz a foto na hora, quantas vezes for necessário”, relata ainda ele, recordando que as fotos de RG antigamente usavam fotos preta e branca, cuja revelação das imagens tinha de ser feita manualmente. “Antes, eu gastava no mínimo cinco minutos, as vezes até mais de 10 minutos, para fazer uma revelação. Agora, com três minutos já te entrego as fotos. Trabalho as imagens no Photoshop, é rapidinho.”

Profissional assistiu ao “sumiço” da concorrência
Outra mudança que Rogério percebeu nos últimos anos foi o fim da concorrência. “Das bancas de lambe-lambe, só a gente resistiu”, afirma ele, explicando que a banca teve que se modernizar (e segue se modernizando) para resistir ao tempo. “A gente se adaptou ao novo e conseguimos manter o negócio. Impressão de documentos e Xerox saiu muito. Também temos serviços de internet: imprimimos boletos, atualizamos cadastros, ajudamos o pessoal a pagar contas online… E também elaboro currículo pro pessoal que está atrás de emprego, é algo que tem bastante procura também”, explica ele, contando que em breve a banca, que tem um metro e meio por dois, com divisória para uma cabine iluminada por uma lâmpada fluorescente, deve passar por uma reforma.
“Estamos aguardando a autorização da Prefeitura. Vamos adaptar a banca novamente, mas ficar no mesmo setor de fotografias”, adianta o fotógrafo, para alívio das gerações de curitibanos que já passaram pela banca Foto Rápido, que mantém todos os registros feitos desde 2012 organizados por data. “Tem muita gente que já tirei foto quando era criança, daí volta aqui e comenta que já tinah feito foto comigo.
Também tenho cliente que vinham quando ainda eram solteiros e agora trazem o filho, o neto… A maioria, quando precisou [de uma foto para documento], retorna aqui. Até porque sou muito conhecido na região, uma referência. Se você perguntar para alguém no Centro onde tem foto 3×4, eles vão sempre falar ‘na banca de foto na Carlos Gomes’.”
A história do início do ofício resgatada
A história de Rogério Bueno foi contada primeiramente pela página “O Centro de Curitiba” (@ocentrodecuritiba), um jornal virtual criado com o intuito de “preservar e promover o Centro, sua história, sua gastronomia e sua gente, sem maquiagem”.
Além da história do personagem curitibano, contudo, a publicação feita pelo jornal do Centro também trouxe um curioso relato sobre a história dos lambe-lambe na sociedade. O texto recorda que por volta de 1915 surgiu o ofício do fotógrafo ambulante, que eram profissionais munidos de uma câmera-laboratório portátil que iam atrás de clientes em praças, parques e jardins.
“No processo, eles lambiam a placa de vidro para saber qual era o lado da emulsão ou passavam a língua sobre a chapa para fixá-la, gesto que lhes rendeu o apelido de ‘lambe-lambe’”, relata a publicação no Instagram.
Com o tempo, porém, as câmeras foram evoluindo e, junto com elas, a atividade. Foi quando os ambulantes saíram de cena e começaram a surgir minúsculos estabelecimentos (como o Foto Rápido), onde as fotos eram feitas.
“Com a popularização das máquinas fotográficas, o mercado dos lambe-lambes se viu reduzido a retratos para documentos. Já não era mais preciso lamber as chapas, mas o apelido continuou firme e forte”, continua ainda o texto dos jornalistas Edu Aguiar e Heros Schwinden, responsáveis pelo jornal, fundado em novembro de 2021 e que dá vida a antigas histórias.