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Quantas vezes você já se preocupou com a saúde de sua voz? Possivelmente, se o seu caso é o de alguém que não exerce um trabalho que exige o uso de suas cordas vocais de forma contínua e em alta intensidade, esta não é uma preocupação rotineira. É aí que mora o perigo: embora determinadas áreas profissionais sejam “de risco” para quem trabalha usando a voz, todos nós estamos sujeitos em maior ou menor grau a problemas envolvendo nossas cordas vocais. Em alguns casos mais graves é possível até mesmo afetá-las de forma irreversível.

Um caso recente chamou a atenção para a gravidade do problema, principalmente entre músicos. O vocalista da banda norte-americana Imagine Dragons, Dan Reynold, precisou tratar de forma intensiva um quadro de hemorragia nas cordas vocais que obrigou que o conjunto adiasse por tempo indefinido três shows que estavam marcados para o Brasil no final de outubro.

A fonoaudióloga da equipe Neopraxis, credenciada da Paraná Clínicas, empresa do Grupo SulAmérica, Dra. Nathálya Coelho Trevisan (CRFa-3 11.987 PR) dá detalhes da lesão que afetou o popstar americano: “Trata-se do rompimento de um vaso no interior da prega vocal, que geralmente é relacionado com um traumatismo vocal agudo. Este hematoma é suficiente para produzir assimetrias na vibração das duas pregas vocais, gerando uma afonía. As causas desse rompimento podem ter sido por abuso vocal, trauma, inflamação ou infecção da laringe”, explica.

Dentre as lesões vocais mais comuns estão nódulos, pólipos, cistos, câncer de laringe, laringite, paralisia de pregas vocais, granuloma, edema de Reinke e sulco vocal que podem ocorrer nas pregas vocais e na laringe. Estes problemas costumam surgir a partir de maus hábitos de higiene e comportamento vocal inadequado, uso abusivo da voz, tabagismo, doenças de vias aéreas superiores, má alimentação – que causa refluxo gastroesofágico – e falta de hidratação.

Nathálya explica quais são os hábitos recomendados para quem quer evitar problemas do tipo: “Essencialmente, devemos evitar o fumo, bebidas alcoólicas, o costume de pigarrear e alimentos que causam refluxo. Também é importante não abusar do uso da voz, ter cuidado com a exposição ao ar-condicionado, manter bons hábitos de higiene vocal e boa hidratação” comenta. Além disso, para quem usa a voz profissionalmente, é importante a realização de cuidados complementares como exercícios de aquecimento e desaquecimento vocais diários.

Entre os profissionais com maior exposição a risco de problemas do gênero estão professores, operadores de telemarketing, vendedores, cantores, atores e radialistas. Além das recomendações já citadas, eles precisam ter atenção redobrada com rotinas específicas diárias de hidratação, alimentação, repouso e preparação vocal antes e depois do uso da fala.

Envelhecimento da voz

O tempo é outro fator que costuma ser determinante para a saúde vocal: à medida que envelhecemos, nossas cordas vocais se tornam mais vulneráveis a problemas. “Elas funcionam como qualquer outra musculatura do corpo que perde tônus e mobilidade. Chamamos este processo de presbifonia, que nada mais é do que o padrão que indica o envelhecimento natural da voz que costuma acontecer entre 65 e 70 anos. Nessa faixa etária são comuns instabilidades vocais, tremores e maior sensação de pigarro”, explica Nathálya. Mesmo que este processo aconteça naturalmente, a fonoaudióloga destaca que pessoas que tomaram cuidados adequados ao longo da vida costumam atenuar significativamente estes efeitos negativos.

Embora existam diferentes e variados problemas do tipo, tais lesões trazem o risco de danos permanentes ou perda total da voz caso o diagnóstico e tratamento não sejam realizados em um período de tempo adequado. Outro aspecto pouco citado mas também relevante no tratamento de pacientes do tipo são os impactos psicológicos causados em virtude da incapacidade do indivíduo conseguir trabalhar ou se comunicar adequadamente. É importante que ele faça um acompanhamento médico específico, caso necessário.

Sensivelmente mais comuns e perigosas do que muitos imaginam, lesões vocais precisam ser tratadas adequadamente: ao perceber qualquer sinal ou sintoma persistente de mudança na tonalidade da fala, rouquidão, soprosidade, falha na voz, dores na garganta, cansaço ao falar, alteração no tom, é recomendada a visita a um fonoaudiólogo.