
O advogado Ogier Buchi (PSL), de 66 anos, sofreu um revés em sua segunda candidatura ao governo do Estado após o presidenciável de seu partido, Jairo Bolsonaro (PSL), declarar apoio à candidatura de Ratinho Junior (PSD). Em seguida, um dia depois do prazo final para registro no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), uma nota da Executiva Nacional da legenda dizia que a candidatura própria no Estado não era “conveniente” neste momento. No Paraná, o PSL tem como principal liderança o deputado federal Fernando Francischini, visto como o principal responsável por articular a retirada de Ogier da jogada.
“Depois de todos concordamos com a candidatura eles por algum motivo mudaram de ideia. Eu não sei por que mudaram de ideia”, ironiza Ogier. Agora, ele enfrenta uma batalha na Justiça para tentar que a impugnação de sua candidatura movida pelo partido seja rejeitada. Ogier convive com a pecha de “laranja”, desde 2014, quando sua candidatura serviu basicamente para atacar os então candidatos Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requião (MDB) que disputavam também a eleição contra Beto Richa (PSDB). Recentemente, ele chegou a ser nomeado para um cargo no Banco de Desenvolvimento da Região Sul (BRDE) pela governadora Cida Borghetti (PP), mas não tomou posse em nome da candidatura. Tem dois filhos com cargos técnicos no governo do Estado, o que alimenta a especulação. No entanto, garante que teria muito mais a ganhar se não fosse candidato do que na atual circunstância. Agora luta contra seus correligionários a quem, informalmente, parece querer provar que seu nome não está “à venda”. Para isso, precisa, no mínimo, aparecer no programa eleitoral, o que não conseguiu até agora. Primeiro, o espaço de 10 segundos ficou vago e depois foi assumido pela legenda que pede votos aos candidatos, sem nomear Ogier. Apesar de não contar com apoio de Bolsonaro, o candidato continua agindo em nome dele. “Sou coerente”, diz. Ele foi entrevistado na última quinta-feira, dia em que Bolsonaro sofreu ataque a faca que o mantém até hoje no hospital. A entrevista foi interrompida pela notícia. “Agora nada disso que estamos falando pode fazer sentido. Temos que saber o que vai acontecer”, concluiu o candidato. Mais tarde, enviou nota com posicionamento. “É lamentável que num momento decisivo como este, as coisas caminhem para esse lado. É preciso saber respeitar a opinião e a ideologia do outro. Não somos nós, da direita, que estamos tentando barrar a democracia por meio da violência”, disse.
Bem Paraná – O que mudou até agora com relação à impugnação pedida pelo partido contra sua candidatura e à sua campanha que ainda não começou?
Ogier Buchi – O partido tem a mesma posição e eu também não mudo a minha. Judicializado que está, já fui intimado pelo Tribunal Regional Eleitoral da impugnação oferecida pelo partido contra minha candidatura e já ofereci minha resposta. Esperamos para em algum momento o julgamento do tribunal.
BP – O senhor não teve campanha na televisão ainda. O senhor tem alguns segundos que foram inclusive usados pelo partido. O que aconteceu?
Ogier – O problema é que apesar de eu ter entregado o material o partido busca obstaculizar a apresentação das minhas propagandas eleitorais e também nisso temos uma judicialização agora. Um representante do partido ocupou o espaço no programa eleitoral pedindo votos para o partido, pedindo votos para Bolsonaro e até foi muito gentil: pediu votos para o governador apoiado, quem quer que seja ele. Imagino que seja eu, claro, que sou o candidato a governador do partido. Mas acho que ele esqueceu meu nome porque é um pouco complicado, é comum que esqueçam.
COERÊNCIA
‘Não entendo o apoio a Ratinho Jr
Bem Paraná – Que tipo de resultado judicial favorável ao senhor a decisão do TRE pode trazer, já que esse impasse pode ter causado dano irreparável à uma campanha curta como essa? O que o senhor realmente quer quando se mantém candidato sem o apoio do partido?
Ogier Buchi – Não sei como vou proceder com relação a danos, perdas e danos, danos morais. Efetivamente – o jornalista haverá de entender – que um homem que está no recôndito do seu lar, é convidado para participar de uma campanha, aceita o convite, dias depois ouve que sua candidatura não é mais conveniente, é difícil de entender. Eu não consigo entender, aliás eu quero dizer o seguinte: muita gente diz que Bolsonaro vai apoiar o candidato do PSC (sic), eu acho que quem é líder da pesquisa sobre o ponto de vista nacional tem que se comportar como líder. Aliás, é o franco favorito para a eleição à presidência. Não consigo entender como o meu candidato, 17 Jair Bolsonaro, pode apoiar o candidato do PSC. Ele saiu do PSC. O Bolsonaro saiu do PSC. Quando ele saiu, o PSC colocou um vídeo no ar, dirigido por um amigo pessoal meu, grande marqueteiro Jorge Geres, que é um marqueteiro argentino, que é muito competente e é marqueteiro do PSC, ele pôs um vídeo, repercutiu na Veja e na imprensa nacional dizendo eu o ‘Bolsonaro não tinha nenhuma importância para o PSC. O PSC desdenhou do Bolsonaro. O PSC é coligado com o PSD (de Ratinho Junior) e ambos estão coligados com a candidatura do senhor Geraldo Alckmin (PSDB). Aqui (no Paraná) já existe outra coligação desse partido com o Podemos que tem candidato a presidência (Alvaro Dias) e eu até digo que esse candidato dessa coligação grande, da coligação milionária (de Ratinho Jr) tem sido bastante correto na sua posição porque ele está recebendo um apoio. E em política recebe-se apoio. Ele (Ratinho) em nenhum momento obscureceu sua posição. No debate da Bandeirantes, ele entrou e foi muito decente e respeito essa posição. ‘Quem é seu candidato?’, ele disse ‘meu candidato é o Alvaro Dias’. Então não consigo entender como o líder (Bolsonaro) que passou as vergonhas que passou no PSC poderia apoiar o PSC. Os acordos políticos têm limite e vergar a coluna também tem limite ético. Não é possível pregar no Brasil inteiro que se é novidade e fazer uma política diferente no Paraná. O PSL do Paraná até onde eu sei tem posição: é Jair Messias Bolsonaro. Em tendo posição tem que ter evidentemente respeito às demais candidaturas. Eu não aceito que Executivas provisórias decidam a cidadania e a vida dos cidadãos. Como o próprio nome indica tem perecimento marcado. Não tem aquela circunstância legal que lhe permitem tomar decisões próprias. Eu fui convidado no dia 5, aceitei, a candidatura foi enviada no dia 6 para registro no tribunal. Depois, me surpreendo com uma nota no dia 15, dizendo que minha candidatura deixara de ser oportuna. Eu nem tinha começado. Eu li na coluna do Ivan Santos (Palanque na TV, do Bem Paraná) que faz um retrospecto nos programas na televisão, faz um retrospecto da realidade, ele diz que não sabe o que eu penso. O jornalista está coberto de razão. É difícil saber o que eu penso em 10 segundos (de tempo de TV), mas é importante, tanto é que o partido usou meus 10 segundos.
BP – Não é apenas “teimosia” insistir nessa campanha sem tempo de TV, sem recurso, sem dinheiro, sem apoio do partido, sem equipe de campanha? Como o senhor pretende tem alguma representatividade, mesmo que para negociar no segundo turno?
Ogier – Eu já tenho. Com tudo isso que estou passando, eu já tenho. Tenho 1% no Ibope. Eu já represento 53 mil pessoas que pensam igual a mim. Quero lembrar que grandes líderes mundiais, talvez o mais importante deles seja (Abraham) Linconln que pronunciou o melhor de todos os discursos da história de uma página só (discurso de Gettysburg), concorreu sete vezes à presidência da República. Perdeu seis. Outro grande líder (Lula), que usou mal sua liderança, está aí ‘guardado no Ahú’ por questões legais, concorreu cinco vezes à presidência da República, para na quinta ser eleito. O embate não me assusta. É evidente que as carências que você citou enfraquecem a minha campanha. Essa é a página 1. A página 2 é dizer ao povo ‘eu sou o efetivo representante legal’ do povo. Eu não tenho dinheiro, não tenho fundo partidário, que é dinheiro do povo usado pelos políticos para se manter nas posições. Eu quando viajo, viajo com meu filho dirigindo para a campanha.
CÚPULA
‘Não conheço o Bolsonaro’
Bem Paraná – Quem o senhor tem que convencer no partido para seguir o rito democrático e ser aprovado no colegiado para ser candidato?
Ogier Buchi – Não tenho que convencer ninguém e nem quero.
BP – Como o senhor vai fazer campanha sem convencer nem as pessoas do seu grupo?
Ogier – As pessoas do meu grupo eu convenço. Eu não convenço os políticos da provisória.
BP – Quantas pessoas são e quem são?
Ogier – Cinco pessoas. Eu nem sei o nome delas. Só sei que recebi uma comunicação do partido via TRE dizendo que a minha candidatura não era mais viável. Eu preciso convencer o povo.
BP – Fernando Francischini é o político mais forte do partido no Paraná. Qual o papel dele nesse processo? O que ele diz sobre isso?
Ogier – Não sei.
BP – O senhor não conversa com ele?
Ogier – Não, não converso.
BP – É a principal liderança do partido. O senhor não procurou ele, não quis saber o que ele pensa? Não procurou ele, inclusive em razão da força política que teria para reverter essa situação?
Ogier – Não. Vou repetir o fato. O senhor Fernando Francischini, no dia em que deveria mandar o meu draft (Draught May Refer To, ou rascunho), que é o documento eleitoral, me avisou que não o faria por conta de uma decisão da Executiva Nacional. A partir desse dia nós não conversamos mais. Porque eu fui convidado na minha casa para ser candidato, aceitei o convite.
BP – Foi convidado por ele?
Ogier – Pelo filho dele (Felipe Francischini). Mas a convenção foi no partido, portanto, foi uma decisão partidária.
BP – E ele foi omisso?
Ogier – Ele não foi omisso. Ele foi atuante. Ele que não queria mais a minha candidatura.
BP – Como o senhor vê isso?
Ogier – Os homens mostram do que são feitos nos grandes momentos. Eu prefiro que a história julgue a ambos. Existem homens que frente a grandes desafios desistem de candidatura, trocam de posição eleitoral. Eu sou diferente. Uma vez aceito um convite eu aceito as responsabilidades advindas desse convite. Depois de todos concordamos com a candidatura eles ‘por algum motivo’ mudaram de ideia. Eu não sei por que ‘mudaram de ideia’. A atitude fala por si. Se o tribunal decidir que eu posso ser candidato eu não tenho que consultar o senhor Francischini.
BP – E a posição de Bolsonaro. Ele não se manifestou daquele áudio em que declara apoio a Ratinho Jr?
Buchi – Eu não conheço Bolsonaro. Eu nunca falei com ele. Sou eleitor do Bolsonaro por decisão minha. Da minha parte você encontra coerência. Eu decidi apoiar Bolsonaro e decidi apoiar sobretudo o projeto econômico que ele tem para o meu país. Sou um liberal por natureza. Conheço Paulo Guedes (economista e consultor de Bolsonaro) antes que Bolsonaro o conhecesse, é bom que se frise. Apoio o projeto que ele escreveu para o partido de Alvaro Vale, o Partido Liberal, na eleição de 1989 o programa dele. E eu já naquele tempo conheci esse programa. Um programa tão bem escrito que naquele eleição, o Afif Domingos, que era do Partido Liberal, ganhou, por exemplo a cidade de Ponta Grossa.
CARGOS
‘Meus filhos trabalham no governo desde 2003’
Bem Paraná – O seu programa de governo é o mais curto, não está claro nem sequer para o senhor apresentar suas propostas em um eventual novo governo. Tem pouco conteúdo.
Ogier Buchi – É um programa sintético. Carente de conteúdo, sim. Reconheço isso. Eu tive que mandar o programa de governo em 20 minutos. Ele não seria enviado por mim. Seria enviado com o draft. Mas é um documento exigido no registro da candidatura. Quem me conhece e conhece minha cultura pessoa, sabe o conhecimento que tenho do meu Estado e as propostas que eu efetivamente defendo sabe a diferença entre aquilo que alguns técnicos escrevem para os candidatos e a real capacidade e competência do candidato. Eu me sinto preparado para discutir com qualquer um dos outros o meu plano de governo e o deles.
BP – O que Ogier Buchi propõe para sanar as demandas da sociedade e o que vai pedir que um eventual aliado no segundo turno inclua em seu plano de governo?
Ogier – Deixar claro para o Paraná que existe dinheiro nos estados e na república. Nosso problema não é arrecadação. O nosso problema é a má utilização dos recursos.
BP – Onde?
Ogier – Em vários lugares. Nós dois já nos encontramos em uma greve escolar. As pessoas que estavam naquela greve reivindicavam uma escola melhor, mais competente, com maiores recursos. Naquele mesmo tempo o governo roubava o sonho da juventude em pelo menos três escolas que ficaram no chão (segundo investigado na Operação Quadro Negro).
BP – O senhor já transitou em governos diversos, já trabalhou com Ratinho Junior na Rede Massa como apresentador, tem filhas com cargos no governo Cida Borghetti (PP) agora. O senhor aceitaria ou pretende aceitar cargo em um governo eleito agora, que não como governador?
Ogier – Se eu não for governador posso pensar nisso. Neste momento eu tenho certeza que eu serei. Só uma observação com relação a filho meu que trabalha em governo. Eles não trabalham no governo da dona Cida Borghetti. Eles trabalham no mesmo lugar, no mesmo ente que Cida Borghetti trabalha. E tem o mesmo patrão que ela também tem, o povo do Paraná. Meus filhos trabalham no governo desde 2003. Passaram, portanto, por quatro governadores. Requião, Pessuti, Carlos Alberto e Cida Borghetti. Passaram pelos quatro e foram promovidos nos quatro diferentes governos. Eu não acho que ser funcionário público do governo do Paraná seja infamante.
BP – Mas eles são comissionados, né?
Ogier – Não. Um filho meu é CLT do governo pela qualificação profissional que ele tem. E minha filha que é jornalista é comissionada como qualquer outra jornalista que atua no Estado do Paraná. Todas as pessoas que atuam na área que ela atua, que é a Comunicação Social, têm cargo em comissão.
BP – Não tem interferência política sua na indicação deles ao governo?
Ogier – Eu vou me comprometer a mandar o currículo dos meus filhos para você comparar com o seu e fazer uma análise. Daí você vai ver se tem influência política ou não.