Não há nada que me deixe mais feliz do que nossos artistas mostrando sua arte no exterior. Nos anos mais recentes, acompanhamos a brilhante carreira de Edilson Viriato vencendo lá fora, participando de uma série de exposições importantes, sendo reconhecido pelo seu profissionalismo e pela excelente linguagem artística que sempre apresenta – como em sua mais recente exposição em Curitiba, montada na Casa Andrade Muricy. Outro artista, é o Marlon de Azambuja, conquistando a Europa – via Espanha, onde mora atualmente. Lembro-me de quanto o incentivei a ir para lá em muitas das nossas conversas sobre arte.
Agora, soube de mais uma artista plástica brilhando no exterior, mais precisamente, em New York! Marisa Vidigal – a mineira que adotou Curitiba, portanto ela é nossa! – sem esquecer também da orientação do internacional Edilson Viriato.
Ela trabalha com um segmento que considero privilegiado. Nomeado “art naïf”, ele lida com a criação espontânea, aquela que emerge da memória do artista no desejo de resgatar e conservar algo como um paraíso – talvez já perdido, porém extremamente vivo ao ser apresentado nas telas.
Alfred Jarry (1873-1907) foi quem primeiro usou o termo art naïf para identificar a pintura ingênua de Henry Douanier Rousseau (1844-1910), artista admirado pela vanguarda da época, que incluía Picasso, Kandinsky e Matisse, entre outros. De lá para cá, aumentou a abrangência deste mundo paradisíaco que retém uma parcela da eternidade, de um tempo feliz que se preserva nas cores luminosas da arte naïve (1) – hoje intermediada por artistas como Marisa Vidigal.
Tratando de situações em que são envolvidos os registros da própria vida da pintora, das pessoas que a rodeavam ou rodeiam, de recordações situadas num nível muito mais emocional do que o da realidade, a artista pinta sua versão de tudo aquilo que já presenciou ou do que poeticamente vivencia nos dias de hoje. Misto de lembrança com o desejo de modificar – sempre para melhor – a realidade do presente ou do passado, a pintora naïve dá vazão à sua criatividade, compondo e idealizando cenas e personagens.
“A obra do naïf carrega toda a sua bagagem de vida, todo o seu pensar, toda a sua percepção do mundo exterior, interpretada, porém, com a mais profunda pureza do seu coração. Dizem que os naïfs pintam molhando os pincéis no coração, que ninguém aprende a ser naïf, ou ele nasce assim, ou não o será jamais. A arte naïf, com formas próprias e técnicas diversificadas, conduz o espectador a descobrir um mundo novo e diferente. Ao mesmo tempo que tão simples e direta, encanta pela força expressiva, pelos inúmeros detalhes, a singeleza dos traços, enfim, pela inigualável e única maneira de ser. Norteados por uma força ou necessidade interna instintiva, os naïfs relatam através de seus pincéis, o etéreo mundo dos sonhos e desejos, as lendas, os ‘causos’ e tradições populares (…) O que permanece relevante para os artistas naïfs, seres privilegiados, é o conteúdo interno do seu universo pessoal.” como diz Jacqueline Angelo Finkelstein, Diretora do Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil – MIAN. (2)
Marisa Vidigal foi convidada recentemente pelo Presidente do Júri da Bienal de Sorocaba, Francis Dosne, que é Curador do Museu Guggenheim de New York, para participar da seleção da New Century Gallery, em Chelsea, Manhattan. Lá, a série “Brasil Brasileiro” da artista foi escolhida satisfazendo todos os critérios de originalidade, autenticidade e potencial de venda.
Agora, seu nome é destaque no convite da exposição “Bravo (from Botticelli to Vidigal)”, com curadoria de Ana Maria Edmonds e do mesmo Francis, aberta no período entre 5 e 20 de janeiro de 2008. Dominick Botticelli – descendente de Sandro Botticelli – trabalha com o surrealismo e sua obra remete à arte religiosa e simbolismo, além de influências da filosofia e da fantasia, esta última responsável pela parceria na exposição com Marisa.
(1) O termo “art naïf” é masculino, porém as regras gramaticais de gênero e número, em francês e em português, são semelhantes, variando de naïf – naïfs para o masculino a naïve – naïves para o feminino.
(2) Bienal Naïfs do Brasil / 2004. Liberdade na Expressão Criativa. SESC São Paulo. Livro da exposição. Pg. 10/11.