As crianças devem participar da compra do material escolar? Longe de ser uma unanimidade, a questão divide pais, avós, psicólogos e professores. A maioria dos pais, diante da lista de material escolar, prefere deixar os filhos em casa, seguindo a indicação de alguns especialistas; uma medida para evitar gastar mais e para não ceder aos apelos das crianças. Mas para os autores do livro Você sabe lidar com o seu dinheiro? Da infância à velhice, essa é uma ótima oportunidade dos pais ensinarem aos filhos noções de responsabilidade com relação ao dinheiro.

A opinião dos autores, Marília Cardoso e Luciano Gisse Fonseca, é compartilhada pela comerciante Jucélia Stam e pela pedagoga Luciana Torres que desde os primeiros anos levam às filhas para fazer as compras do material escolar. Nós procuramos nos ater, primeiro à lista de materiais que a escola pede, e segundo, antes de vir à loja fazemos um levantamento do que pode ser aproveitado, afirma a Luciana Torres, mãe de Mariana Torres, 11 anos, que finalizavam a compra dos itens da lista na unidade da Livrarias Curitiba, do Shopping Palladium, na semana passada. Acho que esse é um momento importante para passar aos filhos noções de responsabilidade em relação às escolhas do material e também sobre o preço justo, o que é muito caro, por exemplo, explica.

Jucélia Stam, mãe de Camila Stam, 10 anos, afiram que a melhor forma de mostrar para a criança o que é um preço justo ou abusivo é levá-la junto às compras. Quando ela pede um determinado produto que está muito caro, eu argumento com ela até conseguirmos chegar a um consenso, diz. Quando gosto de algo caro demais, eu tento encontrar outro que me agrade e seja mais barato, afirma Camila, que não vê problema nenhum em negociar com a mãe a compra da lista.

As duas mães, assim como os autores do livro, defendem que a compra de material escolar é uma excelente oportunidade de falar sobre dinheiro com os pequenos, incentivá-los a poupar na compra de uma mochila, por exemplo, para comprar um outro item desejado. A ocasião é propícia para ensinar as crianças a tomar decisões de compra e a serem consumidores responsáveis.

Mal saem das fraldas, as crianças já se portam como grandes consumidores. Embora o contato com o dinheiro seja praticamente inexistente, está comprovado que os pequenos interferem no orçamento familiar e influenciam os hábitos de consumo de famílias de todas as classes sociais. Diante dessa influência infantil nos gastos da família, muitos especialistas recomendam aos pais que deixem as crianças em casa na hora de comprar o material escolar. Mas, discordo dessa orientação!, afirma a autora Marília Cardoso.
Segundo ela, os filhos carregam dos pais muito mais do que a herança genética. A forma como cada um lida com o dinheiro tem íntima relação com conceitos e ensinamentos assimilados na infância. Os pais têm a missão de mostrar que o dinheiro não cai do céu nem brota em árvores; lição que resolve dois problemas de uma única vez. Primeiro porque justifica as saídas diárias para o trabalho; segundo, forma cidadãos conscientes do seu consumo, afirma a jornalista.

Na visão de Marília, a conversa franca requer um bom preparo dos pais, que devem tomar cuidado com frases como estou saindo para ganhar dinheiro. Uma criança pequena pode acreditar que se ganha dinheiro, ou seja, não associa a moeda à conquista por meio do trabalho e não assimila a noção de valor implícita no trabalho. É importante que desde muito cedo as crianças aprendam o sentido correto das palavras dinheiro e prioridade, defende a jornalista.

Dicas para educação das crianças

  • Antes de sair para comprar o material escolar, combine com os filhos o valor que irão gastar e incentive-os a economizar em determinado item – uma mochila, por exemplo – para gastar em um estojo mais bacana.
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  • Se for possível economizar dentro do valor estipulado, incentive a criança a usar esse dinheiro disponível para uma pequena poupança – um cofrinho – cujo dinheiro poupado pode ser utilizado na próxima compra de material escolar.
  • Coloque seu filho em contato com o dinheiro; reforce que as moedas e cédulas precisam ser bem conservadas porque, quando danificadas, o governo gasta o nosso dinheiro para repô-las.
  • Mostre que algumas moedas e cédulas valem mais que outras, mas que todas têm valor.
  • Na compra do material escolar, procure distinguir coisas caras das baratas; os pequenos precisam entender esse conceito.
  • Mostre a diferença entre querer e precisar, destacando que as necessidades básicas estão contidas no item precisar; o querer pode esperar.
  • Ensine a fazer escolhas – quando a criança quiser dois itens, faça-a escolher apenas um para que aprenda a eleger as suas prioridades.
  • Detalhe com a criança a lista do material escolar; lembre que nada que está fora da relação deve ser comprado.
  • Peça a colaboração dos tios e avós na educação financeira, pois eles podem colocar tudo a perder se derem presentes e dinheiro o tempo todo.